Querido Rodrigo,

Não cedas ao suspiro de resignação. Você está cansado, só isso. As noites mal dormidas voltaram a se amontoar. Os dias sem conseguir movimentar o corpo também. A dor é a única que não falha. Por isso, não pensas com clareza. Buscas refúgio em falsas descargas de dopamina, mas te enganas, essas não são capazes de te proteger.

Pela manhã, café e filosofia te dão um respiro, mas não esperes que dure até o entardecer. Aceita logo a realidade como ela é e constrói intencionalmente a expectativa de que será difícil e desafiador. Claro, como medida de autocuidado, podes escolher quais reflexões e discussões colocar energia. Só não te calas por muito tempo, pois ressentimento se acumula tão rápido quanto poeira. Haverás de varrer e passar pano diariamente para dar espaço à gratidão.

Não ignores as necessidades da tua família, nem alongas teu dia desnecessariamente. Comunica-te de forma justa e empática, mas te perdoa se por acaso não o fizeres. Ou mesmo se cometeres gafe gramatical por falta de prática na voz escolhida.

Digo-te com todo carinho que tenho por ti: não há virtude alguma em se cobrar na maneira e intensidade que te cobras. Lembre, a filosofia é tua aliada, mas não pode atravessar por ti esse rio turbulento. Cabe apenas a tu que o faças. Um dia, uma hora, um minuto por vez. Sem pressa.

Todo esse incômodo faz parte, não rejeite-o, abrace-o.

Com amor,

Um amigo de vidas passadas.