A 2 meses atrás escrevi um texto com a finalidade de avaliar se estava vivendo como a pessoa que afirmo e quero ser. Nele, listei alguns valores que atualmente norteiam minhas ações e orientam minha vida. Um deles dei o nome de Crescimento, traduzindo do inglês “Growth”. Para mim, ele gira muito em torno da aprendizagem e evolução como formas de dar sentido a vida mesmo. Cresço e me energizo quando aprendo e assim sendo quero me manter aprendendo.

Comentei rapidamente em terapia sobre esse meu valor e um tempo depois observei um efeito colateral, por assim dizer. Notei que também julgo as pessoas com o olhar da aprendizagem, a maioria das vezes sem perceber ou dizer nada. Ou seja, avalio positivamente quem está evoluindo e negativamente quem aparenta estar estagnado. Inclusive no meu próprio casamento! Ver minha esposa evoluindo inconscientemente a torna mais atraente ao meu olhar. Vê-la se sabotando ou reforçando um mau hábito, me aborrece e num primeiro momento até me afasta.

Uau! Reconhecer esse padrão de pensamentos foi esclarecedor. Indica que um valor pode criar em nós expectativas sobre comportamento das outras pessoas e com isso causar frustração, tensão e outros sentimentos. Com esse entendimento em mãos, pude dar um primeiro passo que foi conversar com ela seguindo um roteiro similar ao que comentei no texto sobre como conversar mais no relacionamento. Comuniquei empaticamente minhas necessidades e juntos tentamos entender como ela também se sentia e que atitudes dos dois podem nutrir o relacionamento.

O segundo foi tentar entender como regular esse meu julgamento. Não estamos estudando a todo minuto, mas podemos tentar aprender de diferentes formas toda semana ou todo mês, por exemplo. Amar verdadeiramente, como dito por Alain de Botton, é acima de tudo benevolência e gentiliza para com o que julgamos errado ou “quebrado” na outra pessoa. É partir do acolhimento para ajudar a guiar a pessoa amada a se tornar a melhor versão dela mesma e, se pensarmos bem, gostaríamos nós mesmos desse acolhimento em algum momento.

Naturalmente, não amamos a todos, por mais religioso que esse ideal possa ser. Ainda assim, podemos levantar perguntas-chave para sair de uma existência baseada em expectativas e ir para uma baseada em alinhamentos.

Que pessoas, ambientes e interações tenho julgado? Como esses julgamentos estão conectados aos meus valores? Como essa desconexão entre realidade e expectativa está me afetando? Que necessidades estão envolvidas? Como posso comunicá-las melhor? É possível um alinhamento?

Por fim, vale a pena o custo? Pois, é impossível estar alinhado com todos.