Um dos meus primeiros posts aqui no blog tratava de um experimento meu para diminuir o tempo de celular e estar mais presente com minha família. Na época, testei algumas abordagens para desconstruir o hábito de checar o celular o tempo todo como, por exemplo, deixá-lo num cômodo específico, tirá-lo da tela principal ou limitar o tempo de uso através de configurações e aplicativos. Apesar de efetivas durante um período, essas estratégias não resistiram ao tempo.

Uns 2-3 meses atrás escutei um episódio interessante de um podcast focado em neurociência chamado Huberman Lab, você conhece? Esse episódio em específico foi com o Dr. Cal Newport, cientista da computação, professor da Georgetown University e autor do livro Deep Work.

Lá, ao ser questionado sobre sua relação com o celular e como ele faz para se concentrar no trabalho, ele trouxe uma fala similar a que usei no titulo hoje. Sem redes sociais, o celular é um aparelho muito desinteressante. Você até pega para responder uma mensagem, ler um email ou mesmo ver as noticias - ele complementa - porém, não é como se a todo minuto novas matérias surgissem na New York Times (no caso dele).

A culpa não é do celular.

Desde de 2021, tenho feito, por outros motivos, “jejuns” esporádicos de 7 a 15 dias sem redes sociais, especialmente nos fins de ano. Recentemente, incomodado com minha tendência a voltar pro celular mesmo em dias super atarefados, passei a desinstalar nos domingos e reinstalar nos sábados seguintes. Passando de segunda a sexta sem acesso às redes sociais.

Notei alguns padrões. Estou mais atento às minhas filhas e à minha esposa. Os espaços de tédio foram preenchidos com hobbies, estudos e também trabalho. Outro padrão é sobre o que mais me faz querer reinstalar as redes antes da hora. Não são os reels, os memes ou os supostos conteúdos informativos, que convenhamos muitas vezes só nos trazem o sentimento de inadequação ou insuficiência.

São as interações. No meu caso, não são muitas, admito. Mesmo sem o aplicativo, posso checar de tempos em tempos as notificações pela versão web. Mas basta minha esposa me mandar algo ou um amigo comentar sobre meu novo bigode (de Mexicano, Policial, Belchior - ainda estão decidindo esse assunto), aí sim a urgência de ter como me comunicar vem com força.

Poderia essa urgência ser vista como carência? Ou apenas uma condição natural do nosso cérebro social? Não sei, mas essa dualidade certamente é fabricada e os aplicativos bem “sabem” como  chacoalhar nossas convicções e nos prender num ciclo de rolagens sem objetivo.

É a economia da atenção. Tema recorrente de terapia. Minha, pelo menos. Se cada coisa, conteúdo, empresa me rouba um pouco, quanto resta pra mim? Quanto resta de mim? Acho que muitos estão no vermelho.

Se volto à anotações antigas, de sonhos passados, encontro muito pouco. Muito pouco que tenha resistido a esse moinho digital. Viajar pelo mundo? Escrever um livro? Criar minha empresa? Seriam eles mesquinhos?

Poderia ser uma dica de produtividade, mas não é. Passar o maior tempo possível longe das redes sociais está mais para dica de como manter a sanidade.