Essa é uma série de textos em que avalio com quais áreas vale a pena fugir do orçamento para alavancar seu futuro. Se você não viu a introdução com as devidas ressalvas, recomendo ler antes: link. O texto de hoje é sobre aprendizado.


Tony Robbins (@tonyrobbins) é o coach de desempenho mais famoso do mundo. Você pode até não gostar do termo “coach”, mas Tony aconselhou ou prestou consultoria a uma lista desproporcional de pessoas de nome. Pessoas como: Bill Clinton, Serena Williams, Leonardo DiCaprio, Nelson Mandela, e até madre Teresa. Ele fala que “investir em si mesmo é o investimento mais importante que você fará na vida”.

“Mais habilidade, mais aptidão, mais percepção, mais capacidade, é isso que vai de fato lhe proporcionar liberdade financeira”.

Talvez você já tenha escutado isso com outras palavras. Escutei muito dos meus avós, tios e pais que estudar é a coisa mais importante de todas. Suspeito que porque eles mesmos não tenham tido tantas oportunidades assim. Apesar de concordar, tenho uma ressalva: aprender e estudar são coisas diferentes. O formato importa. Normalmente somos obrigados a ficar muitos anos na escola e confundimos esse formato com aprendizado. Isso não é aprender. Já adulto, nunca me senti a vontade de pagar por cursos presenciais maçantes com um professor passando slide. Mesmo os mais “descolados” com dinâmicas de grupo e minutos contados no relógio apresentam resultados duvidosos.

Aprendizado não funciona do mesmo jeito para todo mundo. Estar conectado com as pessoas, com o ambiente e com o assunto precede a própria absorção do conteúdo. Use o formato que melhor lhe atende. Continue procurando até isso ser verdade.

Qual a conexão disso com orçamento? Esperamos por oportunidades ideais para conseguir mudar de vida. O orçamento pode ser a sua desculpa do momento. “Nesse momento, aprender inglês não cabe no orçamento”. “Seria ótimo aprender tal coisa, mas vou esperar ter mais dinheiro para investir”. Em quanto tempo você está adiando seu futuro? Difícil calcular né? É porque superestimamos o curto prazo e subestimamos o longo. Conhecimento normalmente está na categoria do longo prazo e quando menos esperar é a chave que estava faltando.


Por onde começar?

Hoje temos muitas opções a nossa disposição e várias delas gratuitas ou pelo menos pagas com nossa atenção ao invés de nosso dinheiro. Cursos inteiros no YouTube. Threads com lições de vida no Twitter. Perfis no Instagram com dicas para colocar em prática hoje. Conteúdo que antigamente precisaríamos desembolsar centenas de reais para conseguir. Se sairmos das opções gratuitas, ainda podemos encontrar opções de baixíssimo custo. Livros e cursos online custando apenas R$ 30 são encontrados sem muito esforço.

A humanidade saiu de uma era onde o conhecimento era para poucos para uma era em que temos opções demais. A era da informação. Não sabermos o que escolher. Sempre há algo novo surgindo e cada vez mais parece ser justamente o que faltava na nossa vida. O marketing certamente acompanhou esse crescimento. É importante filtrar? Claro. Mais importante ainda é começar e corrigir no caminho.

Comece com aquele livro ou aquele canal no YouTube que você já estava de olho. Não está gostando? Pare agora. Há conteúdo demais disponível para você perder tempo com o que não está te agradando ou que você não está conseguindo absorver. Talvez não seja o momento de você ler ou ver aquilo, vá para o próximo da lista sem remorso. Está gostando? Continue e procure por dicas do que estudar em seguida no próprio conteúdo. O provável é que ele vai te indicar outras fontes. Outros criadores de conteúdo. Outros professores, autores e pensadores.


Investindo mais

A medida que for se acostumando com as escolhas de formato e conteúdo, as opções mais caras podem ser mais fáceis de serem filtradas. Se você não entende direito o que te estimula e parte direto para o primeiro curso caro que viu pode se frustrar. Com isso em mente, um curso mais longo com um especialista no assunto de seu interesse pode ser o que faltava para sair um patamar para outro.

Ainda que tenha escolhido bem, pegue leve nas expectativas. Nem sempre um curso de R$ 3 mil vai te dá isso de retorno. Pode ser até que te der mais, mas não do jeito ou no tempo que você imaginava. É tentador acreditar que o professor ficou rico fazendo o que ele ensina. Não raramente ou ele ficou rico justamente ensinando aquilo, ou aquilo que ele ensina é apenas um dos vários componentes que funcionaram com ele.

Cursos bons podem iluminar o caminho, mas o aprendizado real vem da prática. Especialmente da prática deliberada.


Aprenda na prática.

Primeira vez que ouvi o termo prática deliberada foi num artigo do James Clear. Inclusive, ele mantém uma página com links para artigos e sugestões de livros. Segundo ele, a prática deliberada seria um tipo especial de prática que é proposital e sistemática. Enquanto a prática usual muitas vezes é sinônimo de repetição, a prática deliberada exige atenção e foco com o objetivo específico de melhorar os resultados. O grande desafio está em se manter focado. Afinal, com o passar do tempo a tendência natural do nosso cérebro é transformar repetições em hábitos para economizar energia.

O quanto das nossas práticas hoje são deliberadas? Estamos de fato ganhando experiência no trabalho e cursos ou apenas repetindo padrões?

Das tantas ideias interessantes que anotei do livro Ferramentas dos Titãs do Tim Ferris, uma em especial chamou minha atenção. Ele chama de “criar um MBA do mundo real” ou “o seu próprio programa de pós-graduação”. A ideia por trás é trocar um investimento por tempo dedicado naquilo. Quanto custa por ano fazer uma pós-graduação ou curso específico de alta qualidade? Se ao invés de pagar essa quantia usássemos ela aprendendo na prática? Ou mesmo negociar uma redução salarial em troca de um dia da semana focado nesse aprendizado?

Exemplos com os quais poderíamos juntar as duas propostas e aprender mais que num curso:

  • Investimentos — Separar a parcela que você pagaria por mês num curso para investir em renda variável. Cada mês anotar porque comprou, manteve ou vendeu uma determinada ação. Observar os erros e acertos, revisar decisões e aprender no processo.
  • Escrita Criativa — Entrar num grupo de escritores e dedicar às segundas para se concentrar num romance ou um roteiro. Pedir opiniões dos colegas a cada capítulo escrito. Compartilhar histórias com pessoas fora do grupo, quais emocionam mais? Quais são mais repostadas?
  • Panificação — Começar a fazer pães em casa com o conteúdo disponível na internet ou mesmo se voluntariar numa padaria. Levar alguns pães para amigos e vizinhos, vender para alguns deles.

Nem todos conseguiremos negociar um dia da semana no emprego atual. Até existe um movimento chamado #4DAYWORKWEEK e empresas como a Shoot já conseguiram tirar do papel, mas não serão todas. De qualquer forma, a provocação é valida. Aquele curso que você está se matando para fazer à noite depois do expediente está trazendo resultados? Se o mesmo tempo e valor fosse aplicado na prática deliberada do que você quer aprender, seria diferente?