Saindo do orçamento
Quando determino um orçamento, sinto uma pressão gigante para segui-lo. Não importa o que aconteça. Às vezes isso é bom, mas em outras épocas essa mesma pressão me afasta de determinar qualquer limite de gastos. “Se vou quebrá-lo mesmo, para quê fazê-lo? Certo?” Não é bem assim.
Tudo que vejo por aí é na linha de nos culpar porque ou não sabemos fazer, ou não seguimos direito um orçamento. Então decidi escrever como sair do orçamento, algo que todo mundo é um pouco especialista. 🤣
Brincadeiras a parte. Saber com quais motivos e de que formas flexibilizar o orçamento é algo que vem martelando na minha cabeça.
Vamos lá.
O que é orçamento?
Para se criar um orçamento, o primeiro passo é anotar com atenção os gastos atuais olhando para 1 mês ou talvez um pouco mais. Depois categorizá-los (ex: casa, escola, comida, lazer, etc.) e definir um limite para cada um. Inicialmente visando manter as contas em ordem.
É importante entender que nunca haverá dinheiro suficiente para tudo que queremos. Escolhas são difíceis, mas também não precisam ser perfeitas.
Ao invés de encarar o orçamento como uma parede fixa, uma analogia mais interessante talvez seja de uma rede de proteção. Até estica num ponto, aumentando a tensão em outros lugares, mas evita que você caia. Tudo bem errar. Não ter lembrado de uma conta ou outra. À medida que for passando o tempo, melhoramos.
Orçamentos são sobre dar destino ao dinheiro ao invés de torcer para que algo sobre. Se num determinado mês você souber que precisará gastar mais numa coisa, você destina menos a outras. Resumindo, orçamentos devem ser maleáveis.
Essa maleabilidade não se aplica apenas aos valores, mas também ao intervalo de tempo. Ano passado quis fazer um curso mais caro, mas sabia que não caberia no orçamento do mês. Os juros eram altos para dividir em parcelas que caberiam. Mudei meu olhar para o ano e fiz a conta inversa. Se eu guardasse um pouco todo mês, no final do ano eu teria dinheiro suficiente para esse curso? A resposta foi sim. Tirei então esse valor da reserva e me comprometi a devolvê-lo nesse tempo.
Como já entrei nesse assunto de reserva, vamos a um ponto crucial.
Dívidas não valem o risco!
Exceto no caso de uma emergência extrema, estilo “vida ou morte”, dívidas não valem o risco. Os juros são tão absurdos, passando e muito da inflação, que podem prejudicar anos da sua vida.
Meus primeiros 7 anos de mercado de trabalho foram pagando dívidas. Um carro. Empréstimos para ajudar meus pais. Empréstimos meus também após acreditar que o padrão era viver assim mesmo, pedindo dinheiro. 😔 Nessa época eu tinha pouquíssimas responsabilidades. Solteiro, sem minha filha e morando na casa dos meus pais. Quais oportunidades perdi porque estava atolado em dívidas?
Se realmente precisar fazer uma dívida, avalie as alternativas. Compare as taxas de juros. Fuja de agiotas, cartões de crédito, financeiras e cheque especial.
As ideias que exponho nessa série são dentro de um cenário estável. De preferência se utilizando de uma reserva, mesmo que pequena. Não acredito que a reserva precise ser aquela dos seus sonhos com 1 ano de despesas cobertas. Para esmagadora maioria, demorará muito para chegar nesse nível e a vida não espera.
Quebrando platôs.
Retirar da reserva é uma dívida que você cria com você mesmo. Sugiro anotar e definir em quantos meses pretende repor a quantia. Similar a um empréstimo. Sem isso, podemos perder de vista quanto tiramos e acabar zerando nossas reservas. O bom desse tipo de dívida é que temos mais liberdade de como devolver o dinheiro. Num mês mais apertado você pode pagar menos. Recebeu um extra? Devolve mais. Na tentativa de não perder poder de compra, eu corrijo o valor com a taxa CDI. Consulto o App Renda Fixa (opção Calculadoras > Renda fixa > CDB ou LC pós CDI > Taxa 100%) e me comprometo a repor o valor mostrado lá. Nada muito complicado.
O objetivo principal da reserva é resolver emergências. Concordo. Minha sugestão é olhar esse dinheiro também como “caixa” da nossa própria vida. Podemos usá-lo para sair de uma situação que não nos atende e ir para outra. Quebrar o platô em que estamos. Sair de um orçamento para um novo que esteja num caminho de crescimento e estabilidade.
Você se vê na seguinte história?
“Os anos se passaram e você não guardou a quantidade de dinheiro que gostaria. Até tem mais informações agora, mas não consegue resolver tudo só poupando. Reduzir o padrão de vida parece fazer sentido. Contudo, será que consigo? Será que vale a pena? Afinal, a impressão é que você já não atende suas necessidades a tempos. Quando foi a última vez que viajou? Ou que teve novas experiências em família? Quando fez um curso novo? Ou trocou um eletrodoméstico que só dá dor de cabeça?”
Se nos comprometermos a guardar todo mês algo para cada um dos nossos sonhos quanto seria? R$ 20, R$ 30, R$ 50? Quantos anos vão demorar para termos um montante útil?
Não há amanhã, a vida é agora. Esse não é um convite à irresponsabilidade. É um incetivo a assumirmos riscos controlados em prol de resultados no futuro. De investir em áreas que estão nos segurando. Que hoje nos fazem gerar menos renda e/ou ter menos tempo. Sentir o gosto do progresso para saber o que vale a pena no final das contas.
Que áreas são essas e porquê? Duas das que detalharei melhor nos próximos textos são saúde e aprendizado. O importante mesmo, no entanto, é a reflexão.
Nossos gastos estão nos levando para onde queremos? Adianta está dentro de um orçamento se você não enxerga a saída desse ciclo sem fim de trabalho e consumo?