Pelo segundo ano seguido, decidi aproveitar o recesso de fim de ano para fazer um jejum de redes sociais. Sem mais tantas distrações, me dediquei a revisar como foi o ano de 2022. Se tiver curiosidade, a minha revisão do ano de 2021 pode ser encontrada aqui, foi meu primeiro texto deste blog.

A estrutura é bem simples:

  1. O que deu certo esse ano?
  2. O que não foi tão bem?
  3. O que aprendi?

Por trás dessas perguntas o que eu geralmente faço primeiro é ir atrás de dados. Que dados? Tudo, ou tudo que me lembro, que possa me dar alguma informação útil sobre meu comportamento. Isso inclui cartão de crédito, aplicativo da academia, do smartwatch, o site que cadastro meus livros, e por aí vai.

Depois disso reflito sobre eles e também anotações passadas, abro o caderno, começo a escrever e classificar cada pensamento utilizando canetas marca-texto de cores diferentes. Esse ano, segui para o passo 3 uma subestrutura diferente sugerida pela Novi.cc, dividir o que aprendi em 4 categorias: conteúdos, experiências, pessoas e então redes ou comunidades.

O resultado foi que produzi mais insights do que eu poderia processar num único texto 😅 Cheguei a comentar com minha esposa que fiquei atordoado sem conseguir decidir o que fazer com aquilo. Agora percebo que filtrei pouco, deixei a mente decidir o que jogar no caderno, mas tudo bem.

Aqui trago os principais pontos e em outros meios ou semanas vou destrinchando melhor certos aprendizados.


O que deu certo esse ano?

Saúde mental e bem-estar.

Comecei a terapia em maio/22 e sem sombra de dúvida foi uma das melhores decisões que pude tomar. Aprendi mais sobre meu perfil psicológico e também sobre meus comportamentos automáticos. Diversos desses aprendizados vieram parar aqui no blog. Meu bem-estar melhorou. Fico remoendo menos as questões difíceis que surgem, saio mais rápido de linhas de raciocínio ou padrões que já identifiquei. Posso dizer que foi o que me deu um respiro extra no ano passado. Sou muito grato também por ter encontrado a psicóloga que me acompanha.

Hábitos e Escrita.

Acompanhei meus hábitos num caderno por 9 dos 12 meses do ano. Para além dos números, pude rever também observações que fiz mês a mês e entender o que foi crucial para o quê. Sei que sem isso eu talvez não tivesse chegado num total de 100 textos no ano, pois até julho/22 eu acompanhei diariamente se estava escrevendo algo ou não. Até que entendi que não precisava mais desse controle, já havia se tornado uma necessidade minha.

Melhor relação com a vergonha.

Em mais de uma frente acredito que consegui melhorar minha relação com a vergonha. Eu sou uma pessoa bastante tímida, com uma série de dúvidas com relação ao meu corpo e consegui, por exemplo, aceitar ir nadar de sunga, experiência que descrevi aqui. Gravei também mais vídeos para as redes sociais e também para o time. Especialmente iniciei conversas com mais pessoas e mais pessoas desconhecidas, algumas delas até hoje tenho mantido contato. Estou bem satisfeito.

“Vendi” minha primeira mentoria.

Sei hoje que tenho a tendência de desqualificar minhas conquistas, que até para dizer que vendi algo o primeiro impulso é usar as aspas. De qualquer forma, o que aconteceu foi que um amigo topou fazer uma mentoria comigo. Eu já faço mentoria a algum anos com pessoas no emprego, essa é a primeira vez fora dele. Se eu me manter dando boas contribuições e também conciliar o compromisso com outras responsabilidades, quem sabe não consiga ajudar mais pessoas? Estou entusiasmado com a possibilidade.


O que não foi tão bem?

Saúde física.

Diferente do ano passado, esse ano foi bem desafiador neste tópico. Tomei 2 antibióticos e, pelo menos, 3 corticoides ao longo do ano. Crises de sinusite, bronquite, intestinais e também chikungunya. Essa última, além das dores, gerou sequelas como artrite em algumas articulações e culminou numa lesão no tornozelo esquerdo numa aula de ioga 🤦🏻‍♂️. Me forçou a parar os treinos e até o ritmo de escrita tive que reduzir também porque minhas mãos e dedos estavam travando. Também dormi menos se comparado com a média do ano passado. Isso quer dizer que não houve avanço nas questões que já vinha buscando tratamento? Não, eu me movimentei 15% a mais se comparado com o ano de 2021 e estou entendendo melhor as reações do meu corpo, mas a sensação predominante foi de um ano turbulento.

Finanças.

Como consequência também de ter investido mais em saúde de uma forma geral, nosso custo familiar aumentou. O que significa menos meses guardando dinheiro e mais meses retirando dinheiro da reserva. A média do cartão de crédito subiu e os investimentos fecharam no prejuízo. Esse último ponto, acredito que foi uma combinação de estar exposto à renda variável, não ter dado foco a isso e também um movimento global de recessão. A única forma que consigo interpretar isso é como um grande movimento de aprendizado pelo qual ainda estou passando.


O que aprendi?

Aprendi o que significa aprender.

Aprender não significa ler 12 livros no ano, sequer significa ler um livro até o fim. Não significa fazer uma nova faculdade, mestrado ou mesmo fazer 5 cursos online. Também não significa ser autodidata.

Aprendizado é a explicitação do conhecimento por meio de uma performance melhorada. […] Aprendemos quando passamos por um processo que nos permite realizar algo de maneira melhor ou diferente do que fazíamos antes, seja por aquisição de uma nova habilidade ou pela mudança da nossa visão de mundo. Aprender é colocar conhecimento para fora, não para dentro.” — Conrado Schlochauer, Lifelong Learners

Vai muito além de conteúdo, é vivenciar e refletir sobre. É se conectar com mais pessoas, formal e informalmente, para aprender através das relações. Após tudo isso, tomar decisões e caminhos diferentes. Isso mudou minha visão de mundo, meu comportamento e já tem alterado minhas escolhas.

Aprendi como manter um ciclo virtuoso de crescimento.

Nesse ano que passou eu lia um livro, sofria ou lutava com algo que estava acontecendo, escrevia no caderno sobre o assunto, conversava com a terapeuta ou com minha esposa, ou com algum amigo, aplicava algo, acompanhava meus hábitos nos dias seguintes, lia um pouco mais e escrevia novas reflexões que me ajudavam em desafios que estavam por vir. Como diria o autor do Diário Estoico, aprendi a manter um verdadeiro ciclo virtuoso que me proporcionou mais insights e aprendizados do que poderia imaginar. Tenho certeza que novos virão.

Aprendi mais sobre meus pontos cegos.

Aprendi sobre quais distorções cognitivas eu mais comumente assumo diante de determinadas situações, em particular, leituras mentais. Leitura mental pode ser descrita como: “Acredito que conheço os pensamentos e intenções de outros (ou que eles conhecem meus pensamentos e intenções) sem ter evidências suficientes.” Aqui me refiro a essas leituras mentais e outras concepções distorcidas como pontos cegos. Descobri alguns deles na relação com minha esposa e também com as pessoas do meu emprego. Também na minha relação com a comparação, às vezes me pondo para baixo e às vezes acreditando que meus desafios são maiores do que os dos outros. Todos pontos cegos por focar no lugar ou aspecto errado. Uma vez identificados, comecei a me comunicar de forma mais assertiva e pôr tais pontos cegos à prova, ciente de que outros surgirão.

“Onde você foca determina o que vê. […] Seus olhos são ferramentas. […] O preço que você paga por essa utilidade, essa direção específica e focada, é a cegueira para todo o resto” — Jordan B Peterson, 12 regras para a vida

Somos muito cegos. Faz parte.