— Acho que estou sendo neurótico.

— Tudo bem, todos somos um pouco.

Adoro esses diálogos com a terapeuta. Ela consegue me lembrar com sutileza e precisão, não apenas que não estou só em minhas indagações, mas também que não preciso ficar preso em definições dicotômicas dos comportamentos, das palavras ou dos acontecimentos. Seria impaciência boa ou ruim? E a cobrança é positiva ou negativa?

Depende, Rodrigo, depende.

Nesse dia em específico foi com o controle. Tenho um perfil de autocobrança e venho de um histórico de controle comigo mesmo. Controle da rotina, da alimentação, do horário de trabalho, do que falo ou deixo de falar, das expectativas, do desempenho. Controle. Ao me dar conta disso — através de leituras, reflexões e sessões — entrei no modo “rejeição ao controle”, tanto meu próprio como externo. Fui de um extremo ao outro e até esse movimento, que costumo interpretar como negativo, vou me abster de julgá-lo.

Pude ver a beleza da curiosidade e sentir como é boa a sensação de só deixar rolar. De perceber uma tensão e lembrar “tudo que preciso é me manter curioso”. Curioso com o que acontecerá, com o que a pessoa tem a me contar, com o que vier. Por outro lado, uma das tantas expressões dessa rejeição ao controle, foi que comecei a achar e dizer em voz alta que eu estava sendo “neurótico”.

Mas ora, se todos somos um pouco neuróticos, seria a neurose algo necessariamente ruim? Onde está a “pegadinha”? A resposta para isso talvez esteja em olhar se existe função por trás daquele controle e então avaliar se a relação entre o custo embutido e o prejuízo evitado é positiva.

Quando o controle não tem função além de trazer conforto psicológico (“Ufa, isso vai sair exatamente como imaginei”), pode não ser tão bom. Agora se existe função por trás dele, partimos para avaliar melhor esse controle.

Controlar traz consigo algum custo, seja de tempo ou em forma de desgaste mental, ou em forma de isolamento social, ou até financeiro mesmo. Porém, esse mesmo controle evita algum prejuízo, seja de integridade física ou de saúde mental, ou financeiro também.

E agora?

Controle positivo

Particularmente, controlar o que estou comendo e se sigo minha rotina (de sol, sono, suplementos, etc.) tem função clara, pois acumulei evidências ao longo dos anos de como é negligenciar essa área. Esse controle evita que eu entre numa espiral de crises intestinais, de noites mal dormidas, de picos de ansiedade e estresse, de imunidade baixa, etc. Ele evita uma deterioração ampla de minha saúde, impactando também minha família e meu trabalho.

Tenho vários custos nesse processo. Vejo amigos e pessoas queridas menos do que gostaria. Não tenho liberdade de ir em qualquer lugar sem planejamento prévio. Gasto muito acima da média no mês com alimentos e fármacos específicos. Consumo tempo meu, da minha esposa e da minha filha com isso. Ainda assim, o saldo é positivo e esse controle nesse contexto pode ser encarado como autocuidado mesmo.

Controle por controle

Em contrapartida, tentar controlar se leio ou escrevo todos os dias não tem função além de uma noção vaga de alto desempenho do mundo moderno. Faço essas coisas com naturalidade, à medida que a vontade e a necessidade surgem. Se eu tivesse um projeto específico, como um doutorado, talvez fizesse sentido controlar, mas não é o caso.

Tentar controlar se estou preparado para reuniões corriqueiras; ou se o lugar que estou indo de carro tem estacionamento ou não; ou se num fim de semana com a família estamos gastando muito ou não; é buscar conforto para minha ansiedade. Sei que consigo agir e decidir bem quando a hora certa chegar, basta eu tentar me lembrar disso.

Tentar controlar o que cada liderado (direto ou indireto) meu está fazendo numa semana como outra qualquer, é tentar evitar a incerteza, quando o melhor que posso fazer é focar na estratégia e checar se o processo está fluindo bem.

Esses controles não valem a pena.

Deixo o convite para reflexão: Que controles seus são apenas para aliviar o desconforto da incerteza? E quais tem função clara e você pode parar de se culpar por eles?