O que influenciou meu jeito de liderar
Mesmo depois de uns 5 anos no papel de líder técnico ainda não havia parado pra pensar em tudo que me influenciou ou inspirou em relação à liderança. Acho que inconscientemente resisti a idéia de me ver como líder. Achava que isso de alguma forma me afastava do time, criava uma barreira, que o “nós” não me incluía mais. Até certo ponto talvez seja verdade.
No capítulo sobre “Aprovação Social” do livro “Armas da Persuação 2.0”, o Robert Cialdini fala que somos mais propícios a recorrer aos nossos semelhantes quando há incerteza do que se fazer e depois fala que, no ambiente do trabalho, as pessoas passam a ser mais propensas a compartilhar informação quando veem esse comportamento em colegas de trabalho e não em seus gerentes. “Nós” (Equipe) x “Eles” (Gerente / Líder). 🤔
Resistindo ou não, aqui estou 😅 Em duas oportunidades esse ano fui lembrado (fora do círculo do time) por ser líder: uma no começo do ano quando perguntei sobre o que poderia escrever no blog e outra vez essa semana. Nesse último, o diálogo foi mais ou menos assim:
Ele: “Vi que tu posta trechos de alguns livros de liderança. Estou como líder de um time de 4 pessoas e estava querendo livros para ler e ir melhorando na parte de pessoas. Tens alguma recomendação?”
Minha primeira reação (em pensamento) foi: “é? Hmm, acho que muita coisa me influenciou, mas o quê exatamente?”
Esse post é a minha resposta para essa pergunta.
Como acho que não li tantos livros assim de liderança especificamente, decidi reunir não só livros, mas também palestras e citações que me influenciaram.
Livros
Comunicação Não Violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais - por Marshall B. Rosenberg
Por muito tempo tive dúvidas em como me comunicar de forma respeitosa e ainda assim conseguir passar a informação/recomendação/alerta que queria. Esse livro me ajudou, tanto para falar e me conectar com o time, como também em conversas individuais, os famosos 1:1s. Não se engane, comunicação exige um esforço contínuo, mas acredito que esse livro oferece uma luz.
No mesmo ano que li o livro, fiz um treinamento de mentoring que ofereceu um roteiro de feedback que pra mim está totalmente alinhado com a comunicação não violenta e é mais ou menos assim:
Quando acontece [FATO NEGATIVO] eu (me) sinto [SENTIMENTO NEGATIVO], porque [CAUSA DO SENTIMENTO]. Eu gostaria que considerasse fazer [SUGESTÃO DE AÇÃO] porque acho que isso [CONSEQUÊNCIA DA AÇÃO]. O que você acha?
Como encontrar o trabalho da sua vida - por Roman Krznaric
Questões sobre trabalho? Todo mundo tem e comigo não seria diferente.
Acredito que esse livro me ajudou a entender e desmistificar qual era a relação de trabalho que eu buscava. Consequentemente, ele me ajudou a fazer aconselhamento de carreira e a desmontar conceitos do que é o trabalho e qual o papel dele na nossas vidas.
Pra mim está claro que não é a razão de viver, nem o lugar onde todas minhas questões pessoais serão resolvidas. Será que seus liderados sabem disso também?
SCRUM: a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo - por Jeff Sutherland
Pra quem trabalha com desenvolvimento de software no dia a dia talvez o livro seja mais do mesmo, ainda assim achei importante eu mesmo ler conceitos que até antes de me tornar líder só escutei outros reproduzirem.
Não li até o fim, não achei necessário, fique a vontade para chegar a mesma conclusão. 🙂
Alguns trechos que marquei:
Trecho 1: No final do Sprint, a equipe se reúne e mostra o que conseguiu realizar naquele tempo. […] a equipe discute não o que fizeram, mas como fizeram. Eles perguntam: “Como podemos trabalhar melhor no próximo Sprint? Quais foram os obstáculos que tivemos de remover durante esse período? Quais são os obstáculos que estão diminuindo o nosso ritmo?”.
Trecho 2: “Scrum não é sobre os desenvolvedores. Mas sim sobre os clientes e os stakeholders. […] Mostrar o produto real era a parte mais eficaz.”
Trecho 3: “todos em uma equipe Scrum têm de saber o que os outros estão fazendo. Todo o trabalho que está em andamento, os desafios enfrentados, os progressos feitos, tudo tem de ser transparente para todos."
Trabalhe 4 horas por semana - por Tim Ferris
Os primeiros capítulos apresentam etapas que um fundador/dono de uma empresa poderia passar caso quisesse se “eliminar” como gargalo e que me pareceram fazer muito sentido para líderes também.
Os trechos a seguir fizeram bastante sentido pra mim.
“Falhas de delegação de poderes significam ser incapaz de realizar uma tarefa sem primeiramente obter permissão ou informação”
Muito alinhado com o momento do trabalho remoto, a última coisa que você quer é um liderado que não consegue realizar uma tarefa por falha de delegação e que vai, potencialmente, esperar um dia inteiro de trabalho para poder avançar.
Dê autonomia dentro da sua capacidade atual e revise de tempos em tempos.
“Lembre-se - a menos que algo esteja bem definido e seja importante, ninguém deve fazê-lo. Elimine antes de delegar”
Meu tempo não é necessariamente mais importante do que o do time, só deve ser empregado de forma diferente.
Delegar precisa ocorrer quando você achar que a melhor pessoa para fazer aquilo não é você, não simplesmente porque você não quer fazer aquilo.
“Se você é uma pessoa eficaz, mas desacostumada a dar ordens, assuma que a parte dos problemas nos resultados é culpa sua”
É fácil frente à um resultado “ruim” culpar alguém do time pelo acontecido, já fiz isso (mesmo que mentalmente).
Hoje vejo por esse ângulo: se sou o responsável pelo projeto, é justo que se algo der errado a culpa seja minha. Dei todas as informações que a pessoa precisava? O desafio estava a altura de sua capacidade? Dei o suporte e orientação que ela precisava? Geralmente para uma dessas perguntas a resposta é não.
Palestras
Fora os livros, lembro que assim que assumi o papel de líder fiquei mais atento a palestras sobre assuntos relacionados. Abaixo dois dos principais palestrantes/autores de best-sellers que me inspiraram.
Brené Brown
Brené Brown é autora de cincos best-sellers, mas eu particularmente fui apresentado às suas idéias através de suas palestras.
Ela faz conexões de todos os tipos partindo da vulnerabilidade como ponte para haver conexão, para termos coragem e inclusive para conseguirmos inovar no trabalho.
Liderar um time é um chamado por conexão e você só vai conseguir isso se você aceitar estar vulnerável principalmente para arriscar e errar, porque só assim o time também acreditará nisso e assumirá os riscos necessários eles mesmos.
Simon Sinek
Simon Sinek explora como líderes podem inspirar cooperação, confiança e mudança. Ele é autor de alguns best-sellers como por exemplo o Comece pelo porquê, mas assim como Brené Brown, o conheci pelas suas palestras.
- TED: Como os grandes líderes inspiram à ação
- TED: Porque é que os bons líderes nos fazem sentir seguros?
Ele fala muito sobre como líderes podem criar um ambiente seguro para as pessoas. Na minha opinião, muito conectado com as idéias de Brené Brown.
Será que meus liderados estão se sentido seguros para realizar o trabalho ou com medo de que se errarem podem perder seus empregos? Você está indo na frente primeiro quando o nível de incerteza é alto?
Citacões
Entrei no mercado de trabalho com uns jargões bem ruins na memória sobre o que é trabalho e o que é ser chefe/líder, como “Quando entrar por aquela porta, esqueça o que tiver acontecendo lá fora e coloque um sorriso no rosto”. 🤡😑
Achei que fazia sentido substituí-los por outros que me representavam melhor e as citações (autoexplicativas) abaixo me ajudam no dia a dia além de norteam minhas decisões até hoje:
“Pessoas preferem líderes com defeitos porque torna a liderança alcançável para o resto de nós” - Brad Smith, CEO da Intuit
“Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas” — Manifesto Ágil
“Se um está remoto, todos estão remotos” - Officeless
“Não fuja das conversas difíceis” - Autor Desconhecido
“Nunca confie em alguém que não arrisca a própria pele” - Nassim Taleb
Posts antigos sobre liderança
Se quiser ler textos antigos meus sobre liderança, postei alguns no Medium (alguns anos atrás).