A iminência do golpe
dói mais que o rasgo
Uma pílula num gole
Para não viver no aguardo

Nas palavras, desconstruído 
Para o desavisado, evoluído 
Ambiente Pós-Pandêmico
Não deixa de ser ansiogênico

Atenção 
Atenção 
Atenção
Esse é o modo de operação

Inspira, segura
Expira, segura
4 segundos cada
E estarás são

Só que não.

Não percebes a confusão?
Ideias e mais ideias
Num fluxo contínuo 
Prevendo uma recessão

Misturando estilos
Entrelaçando tempos
os futuros e os vividos
isolados e interativos

Cara, não tenho coragem de publicar isso.
Porque começou a escrever então?

Rodrigo Perazzo - 04/Fev/2023

Eu estava com medo, raiva e me sentindo um fracasso. Lembra minhas músicas na época que eu tinha uma banda de rock com amigos no ensino médio. Escrevi no dia seguinte após ter iniciado um tratamento com antidepressivos. Se fosse apenas a questão da ansiedade, talvez eu não precisasse deles, disse a psiquiatra, mas analisando o quadro completo poderia ser benéfico para mim.

Conseguirei pensar com clareza? Continuarei com acesso à minha criatividade? Esses e outros pensamentos estavam rondando minha cabeça. Eu sei, existem muitos preconceitos associados ao uso desses medicamentos. Sabia deles antes mesmo de considerar tomá-los e nem por isso os pensamentos deixaram de surgir.

Nos dias que se seguiram, eu estava sem ânimo para nada e simplesmente não conseguia romper o incômodo que sentia toda vez que imaginava escrever. Um post em especial na rede social de um empresário famoso me abalou. Dizia algo como “Vocês estão escolhendo se aconselhar com quem tem crise de ansiedade. Depois não reclamem”. Quem seria eu para dar conselho a alguém a partir de agora?

Racionalmente falando, até que consegui desconstruir rápido esse argumento. Primeiro que assim como não é possível evitar com 100% de certeza uma pedra nos rins, ou um AVC, ou um câncer, também não estamos no controle de tudo na nossa mente. Segundo que eu poderia falar sobre o que estou vivendo, da perspectiva de quem está nesse processo, nesse enfrentamento.

Mas a lógica nem sempre concorda com as emoções. Estava difícil pegar o caderno ou sentar no computador com o propósito de criar algo. Seria procrastinação? Ou efeito do remédio? Uma mistura dos dois talvez?

No carnaval, saímos praticamente apenas um dia. Reencontrei algumas pessoas lá no bairro do Recife Antigo e uma delas me disse: “Não pare de escrever. Os textos estão bons, de verdade”. Ela não deve fazer ideia do que estava passando.

É gratificante receber comentários positivos, especialmente por saber que na maior parte das vezes escrevo para mim mesmo, para organizar pensamentos e registrar batalhas internas. Gerar identificação para mais alguém é realmente um feliz bônus.

Não sei se cheguei ao fim da “recessão de ideias” ou apenas fiz uma pausa, mas vou lembrar de ler isso aqui quando pensar em parar de escrever novamente.