Fiz 35 anos essa semana e diferente das outras vezes não senti aquela necessidade de reavaliar a vida que senti das outras vezes. Dessa vez não. Trabalhei um pouco menos do que os outros dias, respondi algumas mensagens de amigos, cortei o cabelo em casa com ajuda da minha esposa e recebemos meus pais para cantar parabéns e dividir um bolo. No dia seguinte percebi que já havia passado 1 trimestre do ano, parecia que tinha sido ontem, como passa rápido. Lembrei então de um exercício que gostaria de tentar.

Esse exercício vi a primeira vez sendo proposto pelo James Clear, autor do livro Hábitos Atômicos, e depois vi algo similar no caderno de exercícios de inteligência emocional do Ílios Kotsou. James Clear afirma que o exercício “Relatório de integridade” o ajuda a responder a seguinte pergunta: “Estou realmente vivendo como o tipo de pessoa que afirmo ser?".  Fiz um pequeno ajuste e incluí também que tipo de pessoa quero ser. Afinal, isso ajuda a me guiar que hábitos e atitudes preciso incorporar para viver de forma plena e íntegra.

O exercício se divide em 3:

  1. Quais são os príncipios ou valores fundamentais que orientam minha vida?
  2. Como estou vivendo de forma íntegra agora?
  3. Como posso definir um padrão mais alto no futuro?

Já venho pensando a um tempo nesse exercício e talvez esse seja um ensaio do que quero ficar fazendo uma ou mais vezes no ano. Se isso realmente acontecer não sei se postarei todos aqui, pois de forma inconsciente ou não eu acabo filtrando as palavras e assuntos num post público e me parece que essa reflexão exige um certo nível de “auto-sinceridade” para surtir o efeito desejado. De qualquer forma, no momento que escrevo isso estou ao mesmo tempo empolgado com as oportunidades que posso descobrir e com medo das falhas que vou notar.


Princípios que orientam minha vida

Abaixo princípios ou valores fundamentais que vêm orientando minha vida. Alguns são antigos e outros só recentemente decidi perseguir.

#1 “Saúde, família e trabalho. Não inverta a ordem”. Não consegui traduzir numa única palavra e pego essa frase emprestado do Joel Jota (@joeljotaa). Não é sobre o tempo dedicado em cada uma dessas coisas, mas sim se estou seguindo essa ordem diariamente nos hábitos e ao tomar decisões. Escolhi esse princípio, pois vivi muito tempo uma relação desbalanceada entre os 3. Adiando médicos e cirurgias em detrimentro do trabalho ou trabalhando muito e deixando a família com o que restava de mim, quando restava algo.

#2 Coragem. A frase “A vida encolhe ou se expande na proporção da sua coragem” da escritora Anäis Nin está na minha estante como lembrete simplesmente porque não me acho uma pessoa especialmente corajosa e sei que isso impacta diretamente minha vida. Em quais áreas já avancei e quais preciso enfrentar meus medos?

#3 Consistência. Criei o mantra “Consistência, Quantidade e só depois Qualidade” para evitar deixar de fazer as coisas apenas por achar que não está bom suficiente.

#4 Criatividade. Acho que sempre tive uma conexão com a criatividade, mas não me permitia vivê-la. “Ah isso não é minha especialidade, não vou ganhar dinheiro com isso, é uma perda de tempo”. Decidi mudar isso.

#5 Honestidade. Herdei dos meus pais esse valor, mas o que exatamente é ser honesto? Por muito tempo não me interessei com vendas por considerar uma atividade desonesta, por exemplo, idéia que felizmente desconstruí nesse artigo aqui. Viver honestamente está comigo, não consigo negar, mas preciso ficar atento à falsas concepções.

#6 Crescimento. O desejo de aprender coisas novas e do auto-desenvolvimento sempre esteve comigo e é algo que naturalmente me traz energia. Como posso evoluir mentalmente, emocionalmente, fisicamente e financeiramente com foco no longo prazo?


Vivendo de forma íntegra

Aqui vão algumas posturas e comportamentos positivos que tenho assumido nos últimos meses.

Colocando o que realmente importa em primeiro lugar. Final do ano passado fui a um clínico geral e mês passado a um nutrólogo, ambos para fazer um check-up geral e avaliar o que preciso corrigir para viver bem e viver mais. Investimento de tempo e dinheiro em saúde e é o oposto do que normalmente acontecia, pois só visitava médico em caso de emergências. Além disso, após 2 anos no formato de trabalho remoto me sinto muito mais próximo da família e também capaz de oferecer apoio a elas no dia a dia. Saúde e Família é o que importa pra mim, o trabalho é um meio.

Escrevendo e expondo idéias publicamente. Esse ano comecei a escrever e publicar de forma consistente sobre coisas importantes e nem sempre fáceis pra mim. Fui a uma talk para a empresa inteira falar justamente sobre esse processo, o que foi um momento ímpar. Fazia alguns anos desde que falei em público assim, mas essa foi a primeira vez que aceitei me sentir tão vulnerável. Tenho exposto mais a minha opinião de uma forma geral, algo que antes ficava com receio de fazer, medo talvez dos julgamentos ou de me expressar da forma errada. Estudar um pouco sobre comunicação compensou.

Criando o que der vontade de criar. Tenho escrito bastante, feito materiais visuais, editado vídeos. Quase tudo que tem dado vontade de fazer eu tenho pelo menos tentado, me dando o benefício da dúvida e acreditando de forma genuína que sou capaz sim de fazê-las. Tenho pouco tempo? Adapto minha própria concepção de “bom” e faço assim mesmo.

Lendo diariamente. Dos 98 dias que já se passaram do ano li pelo menos um parágrafo ou página em 86 deles. Normalmente sobre tópicos que entendo me fazerem crescer como pai, como esposo, como filho, como profissional, como líder, como investidor, como poupador, como pessoa. Não leio por ler. Não que eu veja problema nisso, mas meu entretenimento puramente dito é outro. Na maioria das vezes que leio coloco algo em prática, escrevo sobre o assunto, chamo minha esposa para discutir e alinhar algo. Estudar e praticar até agora é o caminho que conheço para conseguir influenciar meu futuro e da minha família.

Falando em futuro…


Como posso definir um padrão mais alto no futuro?

Agora a parte difícil. Que posturas e comportamentos tenho que assumir que não estão contribuindo com meu futuro e o que posso fazer para mudá-los.

Aceitar que saúde não funciona se for prioridade só de vez em quando. Não adianta falar que busco bons hábitos se permito no dia a dia que outras demandas tirem meu foco da saúde. Por exemplo, deixar que atividades como finalizar o próximo post aqui do blog ou avançar com uma pendência do trabalho serem o motivo de naquele dia não ter ido treinar. A conta chega mais rápido do que gostaríamos. Se falta energia até pra descer com minha filha num final de tarde, talvez as primeiras “parcelas” dessa conta já tenham até chegado. Vale distinguir também a saúde mental/emocional da saúde física. Ler e escrever sem dúvidas ajudam na minha ansiedade, mas por outro lado me puxam pro sedentarismo. Gostei da experiência de treinar escutando podcasts, será que é um alternativa? Audiolivros também? Só não descobri como escrever e correr na esteira ainda 😅

Parar de fugir das grandes decisões e do desconforto no dia a dia. Parar de adiar aquela viagem mais longa com a família num lugar desconhecido. Parar de adiar aquela conversa desagradável. Combinando o fato que sou tímido e tenho a tendência de evitar conflitos, sei que encontro formas criativas de fugir de momentos desconfortáveis sem nem perceber que fiz isso. Acontece com o trabalho, com a família, com minhas emoções. Falar em voz alta, reconhecer que nada mais foi do que falta de coragem talvez me ajude a reverter a situação.

Definir mais metas. Não sou muito fã de tentar criar momentum pra mudar algo na vida através de metas. Se não bater a meta, vem a frustração. Se bater, fica-se orgulhoso, mas e depois? James Clear também argumenta que quem vence e quem perde uma competição tem a mesma meta. A diferença entre eles no geral é o sistema, são os hábitos. Acredito realmente que o que faz diferença no longo prazo são os hábitos. Mas reconheço sentir falta de algumas metas que dentro de uma atividade me motivem a otimizar minhas escolhas. Por exemplo, ainda não tenho metas para número de visitantes no site. Será que definir alguma me ajudaria a procurar melhores maneiras de distribuir meu conteúdo? Ou mesmo escolher formatos mais atrativos? Não é o propósito pelo qual comecei o hábito de escrever, mas pode servir como algo auxiliar.

Investir mais em música. Eu e minha esposa já percebemos que nossa filha tem uma musicalidade natural. Ela pega melodias muito fácil, decora as letras e nos pede para colocar as músicas favoritas dela no carro. Pensando em como incorporo criatividade nos meus dias, sinto falta de fazer algo a mais com música. Será que eu consigo juntar essas duas coisas? Talvez comprar um instrumento adequado pra idade dela e começar a fazer disso um momento nosso para criar e gravar músicas juntos. O que de ruim poderá acontecer? Ter um instrumento a mais encostado? Só vender depois.


Por fim, espero que esse tipo de reflexão me ajude a viver uma vida com maior autoestima por ter a convicção que no dia a dia tenho feito escolhas alinhadas com meus princípios.

Talvez alguns princípios mudem, talvez as estratégias mudem, afinal todos cometemos erros e vamos continuar comentendo eles.

O que importa é está bem consigo mesmo.