Vi um post com o título “quem tem medo do afeto?” e sem pensar pulei. Mais tarde, ao revê-lo e então sim consumi-lo, conclui que tem sido difícil parar e me permitir sentir. A autora trouxe um diagnóstico mais preciso: exausto-e-correndo-e-dopado, pois só dopado para continuar exausto e correndo. O quanto de afeto ainda cabe num corpo que não cumpre os acordos, que falha nos mais simples prazos?

Num outro, sobre escrita, a autora nos convida ao amor ao rascunho. Dar espaço a eles e encontrar o melhor espaço para eles. O papel tem sido o lugar dos meus, mas às vezes até as pautas os sufocam e aí dobro uma folha em branco e deixo eles soltos. Ela ainda nos chama para ler como uma chamada para escrita. Ler e pensar “uau, como posso escrever assim?” me pareceu desafiador, enquanto o que passa por minha cabeça é “talvez falte em mim o mínimo necessário”.

Num terceiro, li sobre a importância da falta. A autora traz que é a partir das faltas que podemos achar no outro o que nos complementa. Sem elas não há afeto, portanto, não há conexão. As faltas não fecham saídas, ao contrário, podem muito bem servir como chaves. Que paradoxo é imaginar vazios preenchendo outros de si.

Nesse meio tempo, e em retrospecto, me pergunto o porquê de ter começado a escrever. Por uma ótica talvez tenha sido para preencher a falta que sinto de criar códigos, dessa vez em softwares humanos, alterando rotinas aqui e ali. Simplificando e enrobustecendo arquiteturas mentais, começando pela minha. Usar as linguagens da filosofia, da psicologia, da emoção e da empatia, pois essas parecem rodar em todas as plataformas humanas, de ontem e do amanhã. Questionar-se sobre ser único no mundo tem dessas coisas. Seria meu conjunto particular de faltas dignas de valor, dignas do afeto?

Às vezes nem sei mais se ao escrever estou praticando vulnerabilidade, coragem ou qualquer outra virtude, ou apenas esperando likes, sendo interesseiro, no pejorativo mesmo. Todos agimos por interesse, disse a terapeuta, o problema parece ser quando agimos em detrimento dos outros. É, não acho que seja meu caso. Talvez os prazos, metas e notificações não me deixem tempo suficiente para refletir e chegar a essas conclusões por conta própria.

Seria tudo uma questão de preferência? Se sim, prefiro ir devagar para chegar cedo, como diz meu avô. Prefiro não saber qual a chegada para nutrir a curiosidade. Prefiro sentar hoje ao sol e sentir algo na pele do que esperar ansioso para sentir algo no bolso.