Encarando minha Ansiedade
“Acordo, olho o relógio, são 3h12 da manhã. Será que foi um pesadelo ou Analu que veio no quarto? Será que ela tá bem? Melhor deixar quieto. Já sei que vai ser um daqueles dias. Porque sou assim? Hoje tenho aquele email pra responder, posso começar mostrando as últimas atualizações, será que já me cobraram? Caramba, dormi ontem sem tomar meu suplemento, tenho que resolver logo minha rotina da noite. Vou me virar aqui, preciso dormir mais… Seria massa pôr em prática aquela dica do livro nos anúncios do Beka Confeitaria; Eita, ainda tenho que editar as fotos do último bolo. São 4h da manhã já?! Vou tentar até 4h45, se não conseguir desisto. Vou precisar de mais café hoje, não gosto quando exagero. Bem que eu podia analisar aquele problema pra ajudar a equipe agora de manhã, mas será que essa é a atividade mais importante pra eu fazer? Nem brinquei direito com Analu ontem, bem que podia dedicar um tempinho a ela hoje de manhã. Um dia de cada vez Rodrigo…”
Poderia ser “só” insônia, mas vi o mesmo padrão se repetir antes de dormir, no café da manhã, no almoço, no jantar, enquanto brinco com Analu, enquanto estou numa reunião, enquanto espero por uma reunião.
Devo ter passado por umas milhares de vezes por esse tipo de diálogo interno antes de aceitar e perceber que nada mais eram do que fruto da minha ansiedade, geralmente fora de controle.
Como lidei com ela no passado
Basicamente anotando, mas deixa eu explicar.
Desde que me lembro, sempre tive muita coisa na cabeça. Talvez por ter crescido com muita timidez, medo de errar, medo da reprovação, ou provavelmente uma combinação dessas e outras coisas ficava muito tempo nos pensamentos imaginando mil cenários possíveis.
Como poderia colocar ordem nesses pensamentos todos? Tive pouca idéia de como até que, já trabalhando, comecei a estudar sobre produtividade. Ahh, lembro da sensação, parecia uma garrafa de água gelada depois de andar ao meio dia no centro da cidade, a solução para todos meus problemas (foi o que achei). “Agora sim! Se eu me organizar, dá pra dominar o mundo hoje a noite! hahaha” (Estilo Pinky e o Cérebro 😅)
Aprendi a anotar, a deixar cada item claro (físico se possível), a detalhar, a categorizar, a criar visões macro, criar planos e sequências de ações, a priorizar, a delegar. Até escrevi um artigo sobre isso.
Por mais úteis que sejam esses conhecimentos, tanto que funcionam até hoje pra mim, ser organizado e produtivo não resolve tudo. Em algum momento, tudo (literalmente tudo) da minha vida virou só uma tarefa (ou problema a ser resolvido) dentro de uma lista sem fim de próximas ações. A medida que a vida exigia mais - financeira, emocional e fisicamente - mais eu agia no automático e, sem perceber, mais eu me desconectava da família. Olhando pra trás, talvez eu tenha apresentado sinais de burnout e não percebi também. Essa desconexão, e incapacidade emocional de lidar com o que estava acontecendo, impactou demais a relação com minha família.
Quando veio a pandemia foi difícil, pra todos suponho, não faziam nem 2 meses que minha filha (com quase 3 anos na época) tinha entrado na escola e demoramos mais alguns meses pra entender que teríamos que nos readaptar novamente, dessa vez ao isolamento. Por outro lado, vi a chance de me reconectar e ao fazer isso, também encarar minhas emoções.
“Convidando Mara pra um chá”
Mara é um demônio das histórias de Buda, que mesmo depois de perder a batalha para Buda, retornava de tempos em tempos. Nessas horas, Buda apenas reconhecia calmamente sua presença dizendo “Eu vejo você, Mara”. Convidar Mara para um chá é uma referência a aceitar a chegada de emoções consideradas “negativas”, acolhê-las, entendê-las. (livro Ferramentas dos Titãs, página 605)
Além de aceitar que sou uma pessoa ansiosa, era preciso aceitar a ansiedade quando ela vinha e não fugir dela.
O que será que ela quer me dizer?
Definir a ansiedade era importante. Algumas definições como “quem tem ansiedade vive mais no futuro do que no presente” eram pouco úteis.
A que mais fez sentido pra mim foi que a ansiedade é a emoção que se sente sempre que você acha que lhe faltam as ferramentas, internas e externas, para lidar com as situações que estão por vir e, no meu caso, também aquelas que eu imaginava que podiam acontecer.
Uma vez tendo consciencia disso, passei a colocar algumas estratégias em prática.
Ter um Mantra. Parece bobo, mas muitas vezes eu sinto ansiedade com coisas simples, como me preocupar se vou achar uma vaga de estacionamento num lugar novo/desconhecido que planejo ir. Para esses casos passei a repetir:
“Você é capaz de lidar com essa situação quando a hora chegar, não precisa se antecipar”.
Definir o medo. Quando a situação é nova pra mim e isso desperta ansiedade, percebi que a fonte principal dela era o medo do que podia acontecer. Daí passei a fazer um exercício que vi nos livros do Tim Ferris (Trabalhe 4 horas por semana e Ferramentas dos Titãs) que se resume a responder a seguinte sequência de perguntas:
O que de pior pode acontecer? Numa escala de 1 a 10, quanto valeriam os impactos permanentes? Essas coisas são realmente permanentes? O quão provável realmente são? Que medidas posso tomar para consertar os estragos? O que posso fazer para me livrar do medo? O que me custa - financeira, emocional e fisicamente - adiar minhas ações?
Não funciona sempre, claro, alguns medos temos que aprender a conviver. Pra mim os medos relacionados à minha filha ainda são os mais difíceis de digerir, mas para a maioria dos outros assuntos responder essas perguntas tornam o que antes parecia insuportável em meros contratempos que posso recuperar.
Identificar o que potencializa. Para além da situação em si, percebi que alguns fatores acabavam potencializando a ansiedade em mim, alguns exemplos com seus respectivos diálogos internos entre parênteses:
- Casa desarrumada (“A minha vida está fora de controle!");
- Notícias pesadas à noite (“O mundo está muito perigoso”);
- Hora extra (“Onde foi que errei? eu devia ter previsto esse problema”);
- Dores crônicas (“Nunca vou melhorar!").
Tentar evitar elas primeiro me ajuda a lidar com a ansiedade de forma mais controlada.
Regular minha bioquímica antes. Nem tudo que passa na minha cabeça precisa que uma decisão seja tomada, às vezes basta ajudar o corpo a se autorregular que aquele item deixa de ser importante.
Com esse propósito passei a fazer uma série de flexão (5 a 10 repetições) logo que acordo, não como substituto dos exercícios, mas para acalmar a mente. Exige de mim só o suficiente para limpá-la da enxurrada de pensamentos matinais.
Outra prática que adotei, menos frequente confesso, foi fazer 1 min de respiração (inspira, segura, expira, segura, repete). O app Headspace oferece um guia específico para essa prática.
Por último, fazer uso de suplementação para reduzir o cortisol e o estresse oxidativo. Tenho tomado N-acetilcisteína (NAC) à noite depois de ter lido o capítulo da entrevista de Tim Ferris com Charles Poliquin (livro Ferramentas dos Titãs, página 103).
Nota: Não sou nutricionista, mas na hora de escolher qualquer suplementação procure aquela que seja biodisponível, isso significa que seu corpo tem maior chance de conseguir absorvê-la.
O que veio em seguida?
Percebi que não sou só eu que sou ansioso e isso tem ajudado muito nos diálogos em família. Reconhecer e lidar primeiro em mim me ajudou a reconhecer no outro, a ter empatia, e finalmente oferecer apoio.
Por outro lado, a Ansiedade pode ser positiva se usada como alerta e não como urgência. No livro Armas da Persuasão 2.0, o Robert Cialdini comenta que em certas situações basta notar que sua ansiedade aumentou com relação a uma decisão (compra, acordo, pedido) para desconfiar que tem alguém utilizando uma arma de persuasão contra você.
Nessa mesma linha, o livro Good Anxiety (Ansiedade boa) parece oferecer todo um olhar positivo sobre essa emoção. Está na minha lista, assim que ler posso escrever mais sobre. 🙂