Começamos a namorar em Fevereiro de 2006 e casamos em Maio de 2014. São 16 anos juntos já e desde do dia 1 escolhemos juntar o que cada um ganhava lidar como se fosse “nosso” dinheiro. Não tínhamos conhecimento sobre finanças, muito menos bons exemplos de como lidar com dinheiro na família. Só sentíamos que se era pra entrar numa vida a dois era pra ser em tudo. Claro que essa é uma escolha pessoal, mas ao ler esses dias o livro “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” do Gustavo Cerbasi me parece ter sido uma decisão acertada.

A 1 ano e meio ela decidiu empreender e se arriscar na confeitaria, algo que desde do início do namoro parecia só uma realidade paralela quando víamos nas séries de TV e ela se animava pra testar receitas nos fins de semana. Quando ela finalmente tomou essa decisão, queria que fosse algo dela, com o nome e rosto dela, algo com que ela pudesse se orgulhar depois de anos dedicados à nossa filha. Mesmo assim, me senti parte dessa jornada, acho que trouxe comigo esse sentimento de que “se era pra viver a dois que fosse em tudo”, queria contribuir e o mais legal foi que ela me deu espaço pra isso. Ainda estamos bem no começo dessa história, vamos completar agora na páscoa exatamente 1 ano vendendo doces, mas revivendo as semanas de preparação e planejamento pré-páscoa vejo como isso afetou positivamente nosso relacionamento.

Além de termos topado entrar juntos nessa, que outros fatores foram determinantes pra isso? A que resultados positivos me refiro? Segue a linha de raciocínio.


Dividindo Responsabilidades

Não é tão comum pessoas de “sucesso” compartilharem o quanto e como o cônjuge abdicou de sua vida e como foi crucial, as vezes se limitam a dizer em discursos “Amor, sem você não teria chegado aqui”. Essa semana, porém, vi um vídeo do Joel Jota (@joeljota) com a esposa compartilhando que ela saiu do emprego pra focarem os recursos (tempo, dinheiro e competências individuais) para que um dos planos desse certo. Achei muito bonito, talvez tenha até sido o porque de ter decidido escrever sobre o tema.

Essa coisa de ter perfis complementares e dividir as responsabilidades do negócio com base neles acredito que tem dado certo conosco também. A divisão não aconteceu de cara, é um fato. No começo, ficava empolgado querendo aprender as receitas e estudar confeitaria junto com ela. 👨🏻‍🍳 Logo nos primeiros meses percebemos que não era uma estratégia eficaz, principalmente quanto ao aproveitamento do tempo e aptidões de cada um. Hoje ela é responsável por se atualizar nos estudos de confeitaria, pela produção em si, reposição de estoque, por atender os clientes e por aparecer no Instagram. Já eu fico com a edição de vídeos e fotos, produção de material visual (cardápio e posts), copywriting, manutenção e acompanhamento da planilha financeira.

Somos sócios, mas antes de tudo somos pais de Analu. Escolhemos não ter babá ou diarista e nem sempre podemos contar com o apoio da família. Dito isso, quando ela está produzindo algo ou estudando é minha responsabilidade ficar com Analu e quando eu estou trabalhando (no meu emprego formal ou no negócio) é responsabilidade dela. Sem esse acordo provavelmente não teriámos nem saído do lugar.

O que é que fazemos juntos então? Decisões de compra, principalmente as compras maiores de utensílios/equipamentos ou encomendas pela internet; Revisão de preços ofertados; Entregas, especialmente quando são muitos itens; Planejamento de conteúdo, revisão dos textos e materiais, entre outros. Quanto mais colaboramos, mais fácil fica de colaborar.


Cooperação e seus benefícios

Já disse Robert Cialdini no livro Armas da Persuasão 2.0, cocriar num projeto fortalece o sentimento de “nós” e isso, pelo princípio da unidade, se expande para outros momentos e nos torna mais propensos a concordar com o outro. Empreender num relacionamento é cocriar o tempo todo, como citei, e nos momentos de decisão facilita se há confiança no que o outro está dizendo. Não só com relação ao negócio.

Empreender também traz pra dentro de casa outro componente importante num relacionamento saudável: a Admiração. Quando cada um trabalha com coisas diferentes, podemos cair na armadilha de “em casa não falamos de trabalho”. Você não só remove do contexto os problemas, mas tira também a oportunidade de se orgulhar dos resultados do outro. Acontece e aconteceu conosco. Num empreendimento, estamos o tempo todo mostrando o resultado dos nossos esforços e mutuamente construindo admiração um pelo trabalho do outro e consequentemente pelo outro. Fico super orgulhoso de ver os bolos dela e ver o quanto ela está evoluindo, assim como ela fica orgulhosa quando consigo concluir um cardápio ou vídeo para confeitaria. (Nota: ela disse que eu tinha que colocar que ela ficava orgulhosa de mim também e não só falar dela 😅)

Com certeza existem outros benefícios de se empreender, como a própria eficiência financeira do casal, atingimento de metas, mas como estamos no início não é algo que possa falar muito sobre.


Quais os riscos?

Tá, falei da parte boa, mas quais os riscos? O que pode dar errado? Sem avaliar esse lado também tudo o que falei pode ser interpretado por um resultado individual e não algo que pode ser imitado, é o chamado viés do resultado (ou outcome bias).

Difícil fazer essa análise só olhando para nossa história, mas às vezes que me senti numa “zona de perigo”, por assim dizer, foi quando criei alguma expectativa do que ela deveria ter feito, fazer ou como se comportar. Até um “calma” diante de um bolo que desmoronou ou um recheio que desandou no dia da entrega pode ser interpretado de forma errada. Isso não aconteceu um ou duas vezes, mais algumas.

Imagino que se o casal não conseguir passar dessa fase, o tiro realmente pode sair pela “culatra” e afetar negativamente o relacionamento. Se a responsabilidade daquela situação é do outro, o caminho pode ser mudar o discurso para “no que posso ajudar?”. Se a responsabilidade é sua, mas você não está conseguindo raciocinar para sair daquela situação o ideal é que você diga “pode me ajudar a pensar nesse problema?”.

Aqui em casa tem funcionado assim pelo menos e estamos felizes e animados com os próximos desafios. 😉