Desfazendo minhas objeções de escrever
Semana passada fui convidado para falar na empresa (Insta @inovacaocesar) sobre o que me inspirava e me motivava a escrever. Como é um assunto que gosto, topei. A recepção não poderia ter sido mais positiva, o que foi uma total surpresa pra mim.
Desde que fui convidado fiquei pensando no que podia falar, mas estava numa semana intensa no trabalho e não parei para escrever nada. Estava ansioso no dia e senti que isso era um alerta de que precisava fazer algo para me organizar, mesmo que pouco, então escrevi post-its na mesa para me lembrar de pontos importantes que gostaria de comentar. Acabou que, ao rever a lista, percebi que não tinha parado ainda para listar as estratégias que estava usando para me convencer de continuar escrevendo, ou seja, desfazendo minhas objeções diárias com aquilo.
Comecei a escrever em 2016 e escrevi 3 textos. Depois escrevi mais 9 em 2018 e mais 2 em 2019. Em 2019 e 2020, deixei inacabados uns 5 rascunhos. Acho que o Rodrigo de lá atrás agradeceria de ter um amigo que compartilhasse as idéias abaixo.
Objeções e seus Contragolpes
“Me manter fazendo algo por algum tempo é um jogo mental de sair derrubando os muros que eu mesmo levanto."
Esse sou eu. Penso demais quase o tempo todo e isso normalmente não é bom. 😅 Fico imaginando cenários demais e crio imagináveis desculpas para fazer algo que não estou confortável. Com ajuda de livros e também de atenção à esse diálogo interno consegui mapear alguns padrões e aí então bolar os devidos contragolpes para eles. 🤜🏻
Medo
Um amigo uma vez me disse que todas nossas preocupações tem como raiz o medo e talvez isso se aplique às dúvidas e diálogos que listo aqui. No entanto, não são todos que isso fica evidente e nem acho que é prático encarar todos dessa forma. Para o medo “genérico”, por assim dizer, meu mantra é “A vida encolhe ou se expande na proporção da sua coragem”.
Nota: Já fiz esse jabá aqui, mas não custa repetir 😁. Confere lá o trabalho da minha irmã super talentosa que fez uma placa de madeira pra mim com essa frase 😍 (Insta @miperazzo)
Vale também tentar definir melhor o medo, falei um pouco sobre um jeito relativamente fácil de fazer isso no artigo sobre ansiedade.
“Tenho medo de falar sobre esse assunto” Às vezes acho que na verdade o medo é de me expor demais ou de expor alguém. Preciso ter cuidado com o que digo? Sim, mas não deixo isso me impedir de ir em frente, é um alerta, não uma placa de pare. Reviso, vejo se estou sendo honesto com o que aconteceu, se o nível de desconforto com aquela informação também está dentro do meu tolerável. Se falo da nossa família, por exemplo, posso chamar minha esposa pra revisar também.
“Estou inseguro”. Uma variação do medo que talvez só não tenha sido definida no detalhe ainda.
“Se você é inseguro, advinhe. O resto do mundo também é. Não superestime a competição e não se subestime. Você é melhor do que acha que é.” - Tim Ferris (Trabalhe 4 Horas por Semana, pág 64)
“Meu único aprendizado que se repete na vida: ‘Adultos não existem.’ Todo mundo está se virando enquanto prossegue. Descubra por si mesmo e faça.” - Naval Ravikant (Twitter @naval)
Medo de não ser importante
"Muita gente já fala disso, porque alguém leria o meu?" Leio isso como “o que tenho a dizer ou eu próprio não sou importante”. Quando esse pensamento me vem lembro do seguinte trecho do livro Armas da Persuasão 2.0 (Robert Cialdini, pág 394).
“Aprendemos, através do guru da comunicação Marshall McLuhan, que o meio (o método pelo qual a mensagem é transmitida) é a mensagem; através do princípio da aprovação social, que a multidão pode ser a mensagem; através do princípio da autoridade, que o mensageiro pode ser a mensagem; e agora, através do conceito de unidade, aprendemos que a união (de identidades) pode ser a mensagem."
Estar conectado com quem fala pode vir antes do conteúdo da mensagem. Vale reconhecer então, que não nos conectamos com todo mundo, muito menos a todo tempo. O que você fala e faz pode influenciar quem está ao seu redor ou quem se assemelha à você, à sua história ou ao seu momento. Entender isso é crucial para desmistificar como filtramos e achamos informação dentro da imensidão de coisas que nos são apresentadas e também para desfazer essa idéia de que só o texto do doutor, professor, pesquisador, profissional conhecido é que importa.
“Eu não ganho dinheiro com isso, pra quê continuar fazendo?" Minha tradução é “a atividade de escrever não é tão importante diante de outras coisas”. O problema dessa pergunta é que faz pensar que as ações em questão são excludentes. Se considero escrever algo importante pra mim e para minha autoestima, posso trabalhar e escrever; posso ajudar em casa e escrever; posso cuidar da minha filha e escrever. Acordo mais cedo se preciso; deixo de lado as redes sociais; adianto as atividades urgentes para ter mais tempo. Os meios existem.
Medo do julgamento externo
Síndrome do impostor talvez? Abaixo uma lista não exaustiva de possíveis diálogos que me desmerecem ou colocam muito peso no outro.
“Não está bom o suficiente”. Meu lembrete para esse caso é “Consistência, Quantidade e só depois Qualidade”. A qualidade virá com a consistência e quantidade de iterações que executo uma ação. Acredito que meus textos de hoje estão melhores do que os de 2018, que já eram melhores que os de 2016. Então penso: “Vou publicar porque meu compromisso de publicar toda sexta-feira é mais importante do que a qualidade individual de um ou de outro texto”. Isso não quer dizer que não me preocupo com a qualidade, mas que na hora de decidir continuar ou não, ela não é o fator mais importante.
“O que os outros vão pensar?". Escrevo para um única pessoa. É muito gratificante e às vezes emocionante receber feedbacks positivos dos textos que faço, mas não é o motivo pelo qual eu os faço. Escrever pra mim é um processo de autorreflexão e em que eu solidifico meus aprendizados, não raramente termino com a sensação de que aprendi algo novo.
“Melhor escrever para si mesmo e não ter publico nenhum do que escrever para o público e não ter a si mesmo” - Cyril Connoly (Tradução livre)
“Eu o teria tratado de maneira completamente diferente se tivesse imaginado que algum dia o mostraria a alguém” - Robert Rodriguez - diretor, roteirista, produtor e muitas outras coisas sobre seu filme “O Mariachí” (Ferramentas dos Titãs, pág 687)
“O último texto recebeu tantos feedbacks legais, acho que esse não está bom." Uma mistura dos últimos dois pensamentos, mas acho que mais na linha da auto comparação. Quando isso acontece, tento me lembrar que não devo esperar os mesmos resultados, toda vez que eu fizer algo será diferente e que bom que é assim, só assim novas conexões e novos aprendizados serão possíveis.
“Não sou autoridade no assunto”. Em uma conversa recente com um amigo, ele me falou: “Não sou médico pra falar dessa cirurgia que fiz”. Pode ser que ele não seja autoridade sobre a condição médica de fato, mas é o único que pode contar da experiência dele. O que estava pensando quando isso aconteceu? Como superou tal obstáculo? Como decidiu seguir em frente? Como se manteve são no pós-operatório? Cada um vai ter uma resposta diferente.
“Se aprendi alguma coisa com podcasts foi não ter medo de fazer algo que não estou qualificado para fazer." - Dan Carlin (Twitter @HardcoreHistory), ele começa quase todo episódio com “Lembre-se de que não sou historiador, mas…" - Ferramentas dos Titãs, pág 318
“Qual é o pior conselho que você ouve sendo dado com frequência? ‘Escreva sobre o que você sabe.’ Por que eu iria querer escrever sobre o que eu sei? Será que não quero usar a escrita para aprender mais?" - Stephen J Dubner (Twitter @freakonomics) - Ferramentas dos Titãs, pág 627
“Como vou lidar com as críticas?" Li uma vez num post do James Clear (Twitter @JamesClear) que a melhor maneira de não perder tempo com quem insiste num ponto é dizer “Você provavelmente está certo”. Normalmente quando discutimos assumimos que estamos falando da mesma coisa e que estamos partindo das mesmas premissas, mas na verdade cada um está usando suas próprias vivências (felicidades, traumas, leituras, etc) para interpretar a situação ou afirmação. Dá para evoluir na discussão e aprender com o outro? Claro, mas há um limite e depois dele é só desperdício de tempo.
Quando há desrespeito ou ataque direto, algo pelo qual felizmente ainda não passei, talvez dê para recorrer às táticas para lidar com haters do Tim Ferris (Ferramentas dos Titãs, pag 581):
- Não importa quantas pessoas não entendem, mas quantas pessoas entendem.
- 10% das pessoas encontrarão uma maneira de levar alguma coisa pro lado pessoal. Conte com isso e trate como matemática.
- Na dúvida, prive o oxigênio. (Ignore ou bloqueie)
- Se você responder, não se desculpe demais.
- Você não pode dissuadir uma pessoa de algo do qual ela não está convencida.
- “Tentar fazer com que todos gostem de você é um sinal de mediocridade. Você evitará decisões difíceis e confrontar as pessoas que precisam ser confrontadas.” - Colin Powell
- “Se você quiser melhorar, fique contente por ser considerado tolo e estúpido” - Epicteto
- “Viver bem é a melhor vingança.” - George Herbert
“Não sou tão bom quanto fulano." Tento me inspirar nas pessoas ao invés de me comparar. Cada um tem seu jeito e um histórico diferente de vida. Não me acho engraçado ou um ótimo contador de histórias ou inspirador como tantos outros comunicadores, autores e palestrantes. Mas uma coisa posso dizer, esse que você ler agora sou eu.
Tem uma fala da Paola Carosella que eu gosto muito e que talvez resuma essa discussão: “Não gosto de parecer nada… eu quero ser… e se eu sendo parece alguma coisa que as pessoas não gostam, eu prefiro que pareça o que elas não gostam do que eu não ser o que eu sou."
Medo de estar no caminho errado
“Não sei por onde começar, Não sei onde postar, Não sei que estilo seguir." Passei por isso no começo, uma espécie de paralisia por excesso de informação ou opção. Deixa eu te dizer um coisa: Não importa. Não importa o lugar, não importa o tema, não importa o formato. Se você não continuar fazendo, nada disso importa. A internet tem conteúdo demais e evolui muito rápido, nem o fracasso dura pra sempre. Poucas coisas passam no teste do tempo. Você pode ler isso e pensar “ah, então não vale a pena nem começar” e eu diria pra voltar algumas casas 😂
Se valer a pena pra você nesse momento, faça, aprenda com isso. Comece simples e depois, caso queira continuar, pense em complicar.
“O melhor momento de plantar uma árvore foi a 20 anos atrás e o segundo melhor momento é agora” – Proverbio Chines