O dia se repete. Uma mente demais e um corpo de menos. Já viu a hora? A luz azul irrita os olhos. Nem reclamo mais. Vou encher a cafeteira que esvaziou.

“Nenhuma dor é insuportável ou dura para sempre”, leio no diário estoico. Será que esqueceram de mencionar as dores crônicas? Como contraponto, bem que podiam estudar uma paciência de mesma categoria. Talvez mais tarde passe um filme pelo qual consiga chorar a dor do outro. Acho que a minha não merece isso tudo.

Rolo por notícias e reportagens, elas afirmam e se negam, sem necessidade de fake alguma. “A vida é agora, aproveite, mas lute pelo seu amanhã ou acha que o governo fará por você?" Mais fácil aprovarem medidas que colocam o ontem em sigilo e o hoje em cheque. Sem verba, sem instrução, doente.

Tento afugentar o pessimismo. Foco no que está no meu controle, no que me dá energia, que faz brilhar meus olhos. Mas o que ou quem deixo passar despercebido no processo?

Opa, ouviu? Só 1 minuto que o café ficou pronto…

Deu 5h, tenho que produzir algo, já já minha filha vai para escola, vai crescer. Quando ela sai sinto uma mistura de amor, orgulho e vazio. Tento preencher com música, céu e papel. Assim que me dou conta, ocuparam foi com reuniões mesmo. Nenhuma novidade.

Nas conversas e comunidades a distância tento praticar a conexão e manter a vergonha no lugar dela. Falar o que a timidez e o cuidado excessivo me privaram, enquanto continuo pedindo desculpas por achar que estou falando demais. Juro que não é intencional.

Putz, passei da hora. Preciso dos suplementos para dormir. Vejo que minha esposa também está cansada, como será que passou o dia? Quantas pendências ainda me restam na semana? A desesperança nem pede mais licença.