Conversa Emaranhada
— Oi, amigo. Tá tudo bem?
“Ok, tudo indo.”
— Você está mais calado.
“A semana foi difícil, talvez uma das mais difíceis.”
— Humrum.
“Gosto de cultivar um otimismo realista.”
— Ã-Hã.
“Mas hoje não estou conseguindo.”
— Sei.
“Para não ser pessimista, para não perder a razão, prefiro me calar.”
— E como está indo?
“Como assim?”
— Tem funcionado? Digo, ficar calado ajudou?
“…”
— Assim, você pode, claro, é sua escolha.
“Mas… Mas… Não posso me expressar como gostaria.”
— Por quê?
“Minha posição não permite.”
— Mas foi o que pediu, não?
“O quê?!”
— Essa posição.
“Eu não tive escolha.”
— Não tinha mesmo ou deixou o medo ditar as disponíveis?
“…”
— Só dizendo.
“Porque hoje você está assim?”
— Assim como?
“Com essa conversa emaranhada, não sei onde quer chegar!”
— Precisa de um destino?
“Achei que você era meu amigo.”
— Sou, estarei sempre aqui.
“Que tal uma palavra acolhedora?”
— Nem sempre é o melhor caminho.
“Você nem sabe para onde está indo!”
— Ah! Mas dá para sentir quando o caminho não leva a lugar nenhum.
“Como?”
— Quando você pega ele só para não sentir.
“Hã?!”
— Incômodo, frustração, medo…
“…”
— Não dá para botar a culpa em ninguém. Deixar o automático te guiar ainda é uma escolha.
“Ainda tem essa história do remédio…”
— O que tem ela?
“Como vou poder confiar no que digo?”
— Hoje você pode confiar no que pensa?
“Não sei se vou conseguir falar contigo.”
— Eu não vou a lugar nenhum.
“É medo mesmo.”
— Então esse é o caminho.