Como nos sentimos quando persistimos?
Comecei o blog literalmente revisando como estava indo minha vida, experimentando mudanças e encarando minha ansiedade. Essa era [e ainda é] a tônica. Refletir sobre questões que me incomodavam e, se possível, compartilhar algo que pudesse ajudar outras pessoas também. Tentei ser ainda mais proposital na ajuda quando um tempo depois iniciei uma newsletter onde compartilhava aprendizados meus nos mais de 7 anos convivendo com intolerância alimentar.
Acreditava que ficar bom num determinado estilo de escrita, produzir vários textos, agendá-los com antecedência era o que precisava para atingir um momento onde eu poderia escrever com tranquilidade. Para minha decepção, essa tranquilidade não parecia chegar. Corria em algumas semanas e travava em outras, zerando qualquer “estoque” feito antes, tanto do blog ou da newsletter.
Foi então que, a uns 4 ou 5 meses atrás, dois movimentos se iniciaram. Uma amiga me convidou para criar conteúdo com ela e comecei a revisar, para logo em seguida escrever, textos para o site da empresa onde trabalho. Vi ambas as situações como oportunidades de me conectar com mais pessoas além de continuar praticando a escrita. Por outro lado, tive a sensação de que isso me atrasaria e que ficaria sobrecarregado, afinal, com quatro compromissos diferentes não seria possível adiantar muito. Então, em agosto/22, dei uma pausa na newsletter e topei o desafio de seguir com o restante.
Variando estilos e emoções
Um pouco antes disso, em junho/22, esbarrei no tema aprendizado autodirigido pelo livro Lifelong Learners e me apaixonei. Com o avançar da leitura, cheguei no tópico sobre como aprender mais a partir de experiências intencionais. Os estudos indicam 3 alternativas para dar trabalho ao seu cérebro e fugir da repetição mecânica na atividade ou habilidade que quer aprender, são: praticar de maneira espaçada; intercalar com outras atividades; e variar o tipo de atividade.
Ainda que não tivesse domínio de cada estilo, gêneros e suas nuances, variar o tipo era justamente o que eu estava fazendo:
- Escrevendo 1x por semana para meu blog, num formato mais de relato pessoal, como esse;
- 1x por semana para o blog com essa amiga, num formato mais didático sobre o tema de desenvolvimento pessoal;
- 1x por mês para a coluna de educação da empresa, num formato mais jornalístico, com referências e um teor comunicativo voltado também para marketing.
Numa outra camada, eu estava diversificando também com quais emoções e sentimentos eu precisava lidar em cada prática. Nos textos jornalísticos, por exemplo, me senti mal por julgar que o texto final era uma espécie de cópia da linha de raciocínio dos autores usados como referência. A terapeuta, como de costume, me trouxe luz para enxergar que o estilo pede esse tipo de abordagem mesmo e não havia porque me sentir mal. Colocar algo meu ali seria um bônus.
Essa discussão de variar ou não me lembra uma fala da Margaret Atwood quando questionada sobre escrever romances e também poesias, gêneros normalmente não dominados por um único autor: “Ninguém me disse que eu não podia, então eu fui lá e fiz”.
Desacelerar e refletir
Outra conclusão dos estudos sobre como aprender mais a partir de experiências é que só aprendemos quando refletimos sobre o que vivemos e que, para o objetivo de ser um aprendiz ao longo da vida, vale trocar velocidade por qualidade.
Para produzir e antecipar conteúdo para o blog, eu tentava destrinchar múltiplas situações e emoções num intervalo de poucos dias e isso é o oposto de refletir com qualidade. Simplesmente não é assim que funciona o processo, nem emocional, nem criativo. Eu estava colocando velocidade e número de posts acima da qualidade do processo como são criados.
Lembro de pensar tantas vezes como ter mais tempo, para refletir e escrever, e talvez não se tratasse disso, mas sim de viver o pacote completo. Ler, trabalhar, se divertir, discutir, sofrer e aí então intencionalmente desacelerar, anotar e refletir. Imaginar o que fazer diferente dali para frente e manter o ciclo. “Pegar a merda e cheirá-la antes de jogar fora” como escutei no podcast da Marcelle Xavier.
Essa sensação de falta de tempo poderia, quem sabe, ser vista como ausência de crenças de autoeficácia, termo que li a primeira vez nos textos do Alex Bretas. Escrevendo mais e mais fui e vou reforçando em mim o quão capaz sou nessa habilidade. Sei, por exemplo, que quanto mais nítida a ideia na minha mente e mais familiar for o contexto, mais rápido conseguirei escrever e não há necessidade de me antecipar tanto. Não raramente, uso também a própria escrita para elucidar o tema. Assim, poucas horas na semana geralmente são suficientes para cumprir meus combinados e continuar nutrindo minha autoestima.
Persistir é retomar
No entanto, alguns dias as coisas não saem como gostaríamos. Não conseguimos focar, nos sentimos depressivos, tudo que queremos é desistir. Semana passada foi uma dessas semanas. Não consegui terminar este exato texto. Nenhuma alteração que fazia me deixava satisfeito e as poucas vezes quando achava que estava ficando bom, algo me distraia, perdia o foco e também a vontade de continuar tentando.
Foi a 3ª vez no ano que não publiquei um texto no blog. As outras 2 vezes eu estava doente com Chikungunya. Dessa vez, me senti tão mal quanto às primeiras ou pior, afinal um estiramento no tornozelo esquerdo e noites mal dormidas por conta de mais um corticoide não são motivos suficientes para não cumprir meu combinado. Será? Só sei que lembrei de algo que Lucas Barreto, nutricionista comportamental que acompanho, disse uma vez. Quando fazemos uma escolha alimentar ruim, por qualquer motivo, é importante que voltemos depois a fazer boas escolhas, pois isso fortalece nosso “músculo” da persistência. Algo similar à máxima de James Clear: “Nunca falhe 2 vezes seguidas”. Falhar a 1ª vez é inevitável, é a vida, mas falhar a 2ª vez já é o início de um hábito. Retome o que queria fazer, independente da queda, e não tenha vergonha disso.
Agora, se você me perguntar como é sentir que está persistindo, eu diria que enquanto está dando certo é ótimo, mas no restante do tempo é uma droga! Você acha que está perdendo tempo, que não está tendo progresso e vai ter vontade de desistir. Nessas horas, ou melhor, um tempo depois quando o pico da emoção estiver passado, se pergunte: estou variando e buscando alternativas para atividade/problema? Se não, como posso fazer? Já tentei desacelerar e refletir alguns dias sobre o assunto? O que posso fazer para retomar meu caminho depois desse evento que estou vivendo e sofrendo? Não fica fácil, mas pode ser que essas perguntas deixem menos difícil do que já é.