Oi! Talvez você tenha chegado aqui atrás de uma resposta, mas não sei se consigo te dar uma, pelo menos não uma direta. Peço desculpas por te frustrar. É muito mais fácil falar “acolha o que está sentindo” do que dar dicas práticas que realmente funcionem no momento em que se vive algo intenso. No entanto, posso te dizer o que não é acolher seus sentimentos. Acolher, ou aceitar, o que você está sentindo não significa não fazer nada a respeito. Demorei a entender isso, mas deixa eu dar mais contexto.

Há algumas semanas, literalmente perdi uma noite de sono remoendo uma situação estressante no trabalho. Conversando com a terapeuta, ela perguntou como era o diálogo na minha cabeça, contei o que lembrava e dentre as coisas que me disse falou algo como “talvez tenha uma questão de aceitação aí, aceitar que a situação era digna de frustração e seguir com a resolução do problema."

Terminei a sessão ainda sem enxergar como dar o próximo passo, escrevi no caderno apenas “Acolher a emoção/frustração”. Uma semana depois voltei e escrevi “Como deixar óbvia a diferença entre aceitar a frustração e aceitar o que causou a frustração?". Pois era isso que eu não estava conseguindo engolir, eu não estava conseguindo lidar com o que ouvi da pessoa. Não entrava na minha cabeça que após tanto tempo de parceria profissional e de boas entregas era com aquele tipo de questionamento e cobrança que eu teria que lidar.

Só que é muito comum nas nossas relações profissionais não estarmos na mesma página, nem o benefício das nossas decisões ficar claro para todos os envolvidos. Somos pegos de surpresa e podemos reagir mal, especialmente se a pessoa também não teve habilidade para comunicar de forma não violenta suas dúvidas ou preocupações. Não dá para fugir disso, mas podemos ter mais consciência do processo emocional e então fazer uma autogestão. Sem necessariamente aceitar o que a pessoa pediu/questionou/falou, mas sim que é perfeitamente possível e comum que ela peça/questione/fale. Se entender isso, não faltarão técnicas de alinhamento, priorização, apresentação, etc.

Ainda frustrado(a) com meu título? Você pode parar de ler e seguir com sua vida, pode inclusive não ler nada mais meu. Tudo bem. O problema vem quando entramos no comportamento de luta (ou fuga em outros casos) e ficamos literalmente perdendo nosso tempo remoendo o assunto ou mesmo em discussões infrutíferas que não focam no que fazer a partir dali.

Um dia a dia diferente é possível

Entendendo a diferença, me senti pronto para pôr em prática, mas não esperava que seria tão rápido. No final de semana seguinte, eu e minha esposa saímos para jantar fora e desde casa tínhamos um prato em mente. Uma salada de folhas verdes, queijo de cabra, molho de mel com azeite balsâmico, morango, sementes e 2 fatias de pão integral artesanal. Um balanço muito bem feito entre salgado e doce.

Só que ao chegar lá, infelizmente o morango e mais algo que não gravei estavam em falta. Fomos então avisados que não seria possível nos atender. Frustrados, falamos um para o outro coisas como “saímos de casa para comer isso, não é possível, no nosso único dia livre”. Percebi minha esposa entrando numa linha da não aceitação: “eles deviam avisar logo, como falta a única fruta do prato? Olhe que perguntamos se as saladas estavam saindo…” e por aí vai. Nesse dia em específico eu estava mais tranquilo, sem ânimo para lutar também sejamos justos, e conduzi a conversa para pensarmos nos outros motivos pelos quais saímos para jantar e eles, diferente do prato, não mudaram. Poucos minutos depois, o garçom volta e pergunta se aceitaríamos trocar o morango por abacaxi, aceitamos.

Como não pensamos nisso antes? Que problema bobo, não é mesmo? Mas é isso que acontece, até as situações mais bobas e simples de se resolver se tornam um problema quando não estamos em condições (físicas, emocionais e intelectuais) de lidar com as emoções resultantes. Frustração, ansiedade, tristeza e outros sentimentos considerados “ruins” estão mais presentes no nosso dia a dia do que achamos. Minha experiência como pai, por exemplo, está repleta de momentos assim. Nem sempre lidaremos da melhor forma e tudo bem, mas podemos mudar drasticamente nossa experiência mudando nossa percepção e como conduzimos as situações em geral.

Tente com você. Respire, nomeie o que está sentindo, deixe passar o pico da emoção se não conseguir na hora, analise com calma, tire suas conclusões, experimente pensar e agir diferente na próxima vez. Acredito que apenas praticando a linha que divide um comportamento do outro ficará clara.