“Não busque um mentor quando você não tiver certeza do que fazer com sua vida.”, é assim que começa um video que vi essa semana do Vinh Giang (@askvinh), um palestrante/comunicador que sigo nas redes sociais.

Logo conectei com minhas teorias sobre como o autoconhecimento está no centro de qualquer linha de desenvolvimento pessoal e é crucial para construir as mais importantes habilidades da vida. Hábitos serão mais duradouros se estiverem ligados a nossa identidade; conversas transformadoras dependem de quanta vulnerabilidade conseguimos assumir e de um discurso focado em como nós nos sentimos; a probabilidade de alcançar metas financeiras de médio e longo prazo aumenta se tiverem um propósito claro dentro da nossa vida. Minha intuição diz que essa lista não para por aí.

No entanto, talvez eu tenha uma interpretação sutilmente diferente sobre o que significaria “certeza do que fazer com sua vida”. Conhecer bem o “eu” não chega a ser um pré-requisito. Acredito que podemos, ainda sem total clareza, fazer o que quer que seja e ir nos encontrando no caminho. Diferentes atividades, trabalhos, livros e pessoas vão nos ajudar, desde que estejamos abertos e atentos na tentativa de nos encontrar e não andando certos da completude de quem somos.

Dizer que encontraremos clareza, no sentido de que em determinado ponto estaremos amplamente confiantes, não me parece correto também. Penso que existem diferentes níveis de clareza, uns mais internos e outros mais externos. Clareza interna poderia ser saber o que nos dá energia, para que lado nossa curiosidade natural nos leva, com o que e quem nos sentimos mais vivos, quais nossos sonhos e valores. Clareza externa poderia ser saber como chegar aonde queremos, quais conhecimentos adquirir, quais hábitos manter, com quais pessoas conectar, como rentabilizar nossas habilidades, conhecimentos e tempo, etc.

Sem clareza interna, a externa talvez nem seja possível, pois não há um plano maior, apenas pontos soltos. Por isso vejo tantos discursos motivacionais nos provocando a fazer a pergunta de “o que realmente queremos?”. Por exemplo, se você tem clareza de que quer viver fora do país, o externo (“o que precisa ser feito”) começa a se desenhar. Ainda assim, a clareza interna não garante uma vida livre de inseguranças e nem precisamos nos desesperar quando ela aparece e insiste em ficar no banco do passageiro.

Perdi a conta de quantas vezes me senti inseguro e, no automático, procurei alguém para me guiar ou responder minha questão. É difícil mesmo lidar com situações em que não sabemos o que esperar. O comportamento que acredito trazer mais possibilidades é: reconhecer que está inseguro; lembrar que a insegurança vem quando estamos em águas desconhecidas; ponderar os riscos; e ir em frente se esses não forem irreversíveis.

Isso não significa que não precisamos de ninguém. Todos precisamos de suporte, e precisar de suporte também não é o mesmo que precisar de validação. De um lado, “eu já sei tudo”. Do outro, “preciso a toda hora que alguém me diga se estou no caminho certo”. Ambos são prejudiciais. Consegue enxergar a linha? Nem arrogância, nem dependência. O que queremos é ser autodirigidos, algo tão reforçado por Conrado no livro Lifelong Learners.

Ser autodirigido talvez seja se guiar mesmo inseguro dos passos à frente, mas confiante de que o pelo menos o mapa é o certo. Ter também confiança de que no meio do trajeto encontraremos as pessoas que podem desbloquear as pontes e, quando isso acontecer, lembrar de ter humildade para escutar suas sugestões, sem nos tornar refém delas.