Essa semana navegando pelo feed infinito do Instagram passei por alguns vídeos e posts no estilo “5 livros que mudaram minha vida”, “10 livros que você deveria ler por conta de X” ou algo parecido. Sentindo um verdadeiro incômodo, postei o seguinte tweet:

Você não precisa de mais livros. Você precisa botar para “fora” todo esse conhecimento que você só botou para “dentro”

Uma boa parte do tempo uso o Twitter para criar lembretes para mim mesmo, assim posso voltar lá no meu perfil de tempos em tempos e verificar se estou sendo coerente 😅 Meus textos aqui não são tão diferentes em propósito. Escrevo para organizar minhas reflexões e sentir que estou dando passos e progredindo em determinados assuntos.

A ideia por trás desse tweet em particular não é minha. Vem da definição de aprendizado do Conrado Scholochauer (sim, eu falo várias vezes do mesmo autor/livro porque é assim que eu processo o que li 😄):

“Aprendizado é a explicitação do conhecimento por meio de performance melhorada. Essa é minha definição. Aprendemos quando passamos por um processo que nos permite realizar algo de maneira melhor ou diferente do que fazíamos antes, seja por aquisição de uma nova habilidade ou pela mudança da nossa visão de mundo. Aprender é colocar conhecimento para fora, não para dentro.” - Lifelong Learners, pág. 84

A definição é clara. Só podemos afirmar que aprendemos algo quando transformamos o conhecimento em prática melhorada. Assim, quando percebi esse padrão de conteúdo de certa forma me influenciando ou no mínimo chamando minha atenção para ir lá ver que lista de livros seria aquela que “mudaria minha vida” me dei conta que nada mudaria de fato. Eu já li mais livros do que o jovem Rodrigo, que não se via como leitor, sequer imaginou que faria e minha lista de livros hoje só faz crescer. Não me importaria de adicionar mais um, claro, mas eu realmente não preciso de outros livros no momento. Eu preciso colocar em prática o que absorvi, só depois poderei validar que de fato algo foi melhorado.

Mas exatamente como fazer isso?

Para alguns tipos de conhecimento o caminho é mais claro. Validar o conhecimento de como se fazer um tipo de sopa depende de você cozinhar aquela sopa algumas vezes, ouvir críticas, fazer ajustes e então receber elogios de que sua sopa tem ficado mais saborosa. Já para validar o conhecimento sobre a autorregulação das emoções, enfrentamento do medo, psicologia, comportamento humano, metacognição e qualquer outro que seja um pouco mais abstrato pode ser complicado. Para esses tenho me concentrado na escrita. Será que dá para melhorar?

O Alex Bretas, parceiro de pesquisa do Conrado, é quase que um ativista do aprendizado autodirigido. Recentemente, ele publicou uma lista com “25 comportamentos de aprendizes autodirigidos altamente eficazes” (parte 1, 2 e 3). Alguns, mesmo sem aprofundamento, já nos dão boas dicas:

  • “Aprender em voz alta” | Compartilhamento de aprendizados
  • Momentos de solitude + Momentos de conexão
  • Aprendizado online + offline
  • Aprendizado a partir da curiosidade
  • Aprendizagem como criação, e não reprodução
  • Aprendizado social (P e R do CEP+R) é fundamental
  • Aprendizado pela vivência (E do CEP+R) é fundamental
  • Aprendizado como aventura ou investigação
  • Atitude altruísta | Devolver ao mundo o que aprendeu

Criar, compartilhar, se conectar, alimentar a curiosidade, viver, se socializar, devolver ao mundo. Enfim, o que os dois (Conrado e Alex Bretas) chamam de CEP+R: Conteúdo, Experiência, Pessoas + Rede.

Concluo para mim mesmo, depois de quase 50 textos escritos esse ano entre blog/newsletter/trabalho e sem contar meu caderno pessoal, que escrever é sim algo bom para refletir, organizar pensamentos, fixar conceitos, conectar tópicos e pôr para fora conhecimentos, especialmente os mais abstratos. No entanto, se eu parar por aí, pode virar uma forma de adiamento de enfrentamentos importantes que não vão acontecer no ‘papel’, mas somente no mundo real, com as pessoas e as dificuldades reais.

Talvez poucos entendam o quão difícil é exercitar a conexão para mim e, na mesma proporção, o quanto me energiza e me toca quando alguém vem e comenta algo meu seja agradecendo ou dizendo que está passando pelo mesmo ou mesmo só interagindo. 

Preciso e quero, à minha maneira, amplificar isso.