Essa semana tive oportunidade de pela 1ª vez participar e conduzir remotamente uma dinâmica conhecida por Troika, que faz parte do conjunto chamado de Estruturas Libertadoras.

Estruturas Libertadoras são formas de se comunicar, coordenar e gerar confiança nas relações em grupo. Em contrapartida, as estruturas convencionais são ou muito inibitórias (apresentações, relatórios de status e discussões gerenciadas) ou muito soltas e desorganizadas (discussões abertas e brainstorms) para engajar as pessoas em discussões criativas.

O que mais me atraiu no tema foi justamente pensar que há outra forma de nos comunicarmos em grupo e que as formas que usamos normalmente estão sob efeito das relações de poder e/ou monopolização da voz ativa, mantendo o restante do grupo no modo passivo.

Percebo agora como isso se conecta com minha própria linha de estudo do aprendizado livre, pois as experiências que tive durante quase toda minha vida de estudante eram de um professor, dono do oque-como-quando, e um aluno sem poder exercer sua autonomia, não raramente humilhado quando tentava fazê-lo.

Há muito mais o que falar sobre Estruturas Libertadoras do que eu possivelmente conseguiria expor aqui. O site em português é ótimo e sugiro dar uma olhada.

Troika Consulting

Na página dessa microestrutura, como são chamadas essas dinâmicas, rapidamente entendemos a quê ela se propõe: obter ajuda prática e criativa de colegas imediatamente. Feita para trios com duração de 30 minutos no total.

Como estávamos os 3 remotos, então fiz pequenos ajustes no passo a passo. Antes do dia em si, comentei com eles num encontro síncrono sobre o propósito dela. Depois, no assíncrono, mandei o link da Troika e pedi que pensassem num desafio ou problema que estão enfrentando e que possivelmente os outros 2 poderiam ajudar.

No dia, relembrei rapidamente os tempos de cada etapa e seguimos esse roteiro:

  • A primeira pessoa compartilhou seu desafio. 1-2 min.
  • Os outros 2 fizeram perguntas de esclarecimento sobre o desafio dela. 1-2 min.
  • A pessoa que compartilhou o desafio desliga a câmera e o microfone.
  • Juntos, os outros 2 geraram ideias, sugestões, dicas e novas perguntas. 4-5 min.
  • A pessoa liga a câmera e o microfone e compartilha o que foi mais valioso sobre a experiência. 1-2 min.
  • Mudamos para a próxima pessoa e repetimos o processo.

Saímos os 3 com uma folha cheia de anotações e me parece que o saldo foi bem positivo.

Aprendizados

Nas minhas anotações dividi os aprendizados em 2 conjuntos: um sobre a dinâmica em si e outro sobre a apresentação dos desafios por cada pessoa. Aqui os listo em ordem.

  1. Uma coisa que faria diferente da próxima vez é manter um timer visível a todos, acho que facilitaria a troca das etapas sem parecer que você está interrompendo o raciocínio da pessoa.
  2. Os tempos são propositalmente curtos e isso incomodará. Deixar claro que podemos repetir a rodada caso faça sentido continuar se aprofundando no problema. Inclusive é uma das dicas listadas no site.
  3. Ainda sobre os tempos, acho vale lembrar as pessoas para encará-los como um desafio à parte, o de aprender a ser objetivo e escutar atentamente.
  4. Quanto mais específico for seu briefing ou apresentação do problema, mais direcionadas serão as respostas. Isso pode ser ruim ou bom a depender da situação. Se quer algo prático, pode ser bom ser mais específico. Se estiver numa fase de planejamento de algo, nem tanto.
  5. Ao adicionar os porquês na sua explicação, as pessoas questionarão eles. Isso pode ser bom, desde que esteja pronto para explicá-los, aberto para escutar outras opiniões e disposto a refletir sobre as emoções resultantes desse processo. Não é fácil ouvir de alguém que as premissas que usou podem estar equivocadas. É aqui que acho que faz diferença manter um espaço seguro. Divergências são saudáveis, desde que todos concordem em manter a empatia.

No fim das contas, gostei bastante e planejo ficar atento a outras oportunidades de encaixar essa estrutura.🙂