Desperto. Vou para o sofá, dou uma dezena de passos e uns 4 assuntos diferentes me atravessam, mas já não lembro quais. Pego o celular para ver quantas horas dormi. Algumas notificações. Rolo por elas, de app em app uns 30 minutos se passam e o sol nem nasceu.

Vixe, dor de estômago. Vou comer. Uma ou duas bananas? O nutri passou duas, mas essas tão maiores que o normal. Acho que uma basta. Será que não vai alterar o rendimento do treino? Hoje é perna. Não vai dá para ir antes de deixar ela na escola. Posso pular o cardio, mas talvez ainda fique apertado. Eu devia adiantar alguma coisa da bolsa dela. Cadê o estojo? Ela deixou lá ou tirou da bolsa? Nem tomei meu café, melhor fazer. Para essa quantidade, 80-100 ml deve bastar. Enquanto esquenta a água, vou checar os emails.

A bebê acordou, a mãe precisa ir no banheiro, deixa essas abas abertas pra depois. Eita, deu a hora, entrega a bebê para sogra, corre para trocar de roupa, melhor colocar a de academia. Não lembro se escovei o dente. O trânsito já está uma agonia com a chegada do carnaval.


Quase 1 ano desde da última vez que me senti assim. Concluo (mais uma vez?): nada é tão simples que uma mente ansiosa não consiga complicar.

Mas o quê há a mais para dizer? Que as vezes quero desistir, desistir de ser. Que por trás de certas cobranças, há a necessidade básica de ser amado. (Por conta dela?) Uma vida de riscos evitados, agora circuitos tão arraigados que não existe raciocínio lógico, gráfico ou ensaio clínico randomizado duplo-cego que me faça escapá-los. Valas profundas, sem escadas, sem cordas, só lama.

Há também fios de vida. Lãs coloridas que brilham mesmo na neblina. Eu as desenrolo e o encanto me prende, me fascina. Pulamos por obstáculos, de troncos caídos à penhascos. Dependo delas e elas de mim. Concentrado, esqueço até dos laços. Eles começam a me chamar e a qualquer momento posso cair. Me apresso, sinto culpa por não voltar e frustração por não seguir.

Na realidade não há escolha. Sei o que fazer. Aos outros necessito dar sustento e abaixo da lama não há cor alguma mesmo.

Do que eu falava? Ahh sim, ansiedade. É por aí, foi “só” a redução de um medicamento. Agora tô bem. Tô bem.