Ansiedade: pro lado bom e pro difícil
“Às vezes fico na dúvida se esse meu incômodo com a lentidão com que as coisas mudam não é fruto da minha ansiedade.”
“Não tenho dúvida que é. Só que a ansiedade, especialmente para o seu perfil, vem pro lado bom e pro lado difícil.”
Assistimos filmes, lemos livros, conversamos, experimentamos várias coisas, mas nem tudo fica gravado na memória. Para mim, aqueles trechos ou falas que fazem um “clique” na minha cabeça são os que mais me marcam. Foi assim com essa resposta da terapeuta e passei alguns dias observando e refletindo como isso se apresenta no meu cotidiano.
De um lado minha ansiedade me faz questionar a normalidade de mudanças demorarem anos para serem implementadas nos meios em que faço parte. Do outro, fico me questionando se isso não é impaciência ou mesmo ingenuidade minha. “Essas minhas ideias não vão dar certo, melhor voltar às minhas responsabilidades”, penso eu já derrotado.
De um lado a ansiedade me fez desenvolver uma visão sistêmica e de futuro nos projetos que participo e aprendi a antecipar muitos riscos, às vezes de meses à frente. Mas do outro, nem sempre consigo traduzir a quem importa o que parece claro para mim e isso facilmente se torna uma grande fonte de frustração. “Porque eles não enxergam o que eu enxergo?”, penso eu no calor do momento.
De um lado, por já ter vivido a ansiedade diversas vezes, tenho o maior cuidado para que minha comunicação não cause ansiedade nas pessoas. Porém, isso não me isenta de sofrer quando não se comunicam direito, quando marcam reunião sem pauta ou mesmo quando cancelam reunião sem me dizer nada. “Será que fiz algo que incomodou alguém?”, penso eu na minha insegurança.
De um lado a ansiedade para atender padrões imaginários de desempenho me fez ter muita consciência das minhas limitações e buscar me desenvolver constantemente. Ao mesmo tempo, e exatamente por isso, é comum estar distante nos pensamentos e não vivendo o que importa agora. “Deve ser muito chato conviver comigo ou mesmo ser meu amigo”, penso eu nos dias que estou para baixo.
Qual foi o clique na minha cabeça?
Foi que não preciso remoer o fato de ser ansioso. Não é uma falha no meu design. O que preciso é aceitar o lado bom e trabalhar o difícil.
Diminuir as expectativas e testar mais ideias, a satisfação não precisa morar no acerto. Aprender quando a realidade demandar e não influenciado pela insegurança dos outros, já basta a minha.
Estar atento aos sinais do me corpo de que estou num pico emocional, validar a emoção e me autorregular. Ser mais pragmático, não preciso que enxerguem tudo que eu enxergo, muitas vezes basta que entremos num acordo com relação ao próximo passo.
Entender que a falta de coragem para vulnerabilidade e a falta de habilidade de comunicação dos outros não é culpa minha. Se incomodei alguém, estarei aberto para escutar seus pontos. Falarei os meus quando eu for o incomodado.
Praticar mais a presença e o mindfulness, sem sentir culpa por alimentar meus raciocínios, afinal eles também fazem parte de quem sou.