Na minha trajetória de entender as emoções tenho a impressão que vamos passando por capítulos que nos dão novas perspectivas sobre o mesmo tema.

Minhas leituras de livros, como “Courage is Calling” do Ryan Holiday e “Ferramentas dos Titãs” do Tim Ferris, me fizeram entender que muitos dos nossos medos não são embasados em fatos. O mistério e a falta de compreensão é o que os alimenta. Na medida que vamos nos debruçando sobre eles, que vamos abrindo caminho sem luvas ou facões pela mata aparentemente cheia de espinhos, a situação antes apenas imaginada vai tomando forma, e o medo vai quase que proporcionalmente diminuindo. Perde força e se reduz a um risco pequeno, com efeitos colaterais não duradouros e certamente contornáveis. Não haviam espinhos, o que havia era uma vegetação nova, estranha aos olhos não treinados.

No entanto, alguns medos são espaldados por informações reais. Pessoas próximas nos trazem relatos de seus sofrimentos recentes. Notícias da cidade ou do bairro em que vivemos nos apresentam perigos que sequer imaginávamos. Aí então, temos pesadelos perdendo nossos empregos, perdendo algum familiar, nos perdendo num lugar frio, escuro e desconhecido. Ou quem sabe algo mais sutil como pensamentos “e se” soltos ao acordar ou entre uma tarefa e outra. Vivenciei ambas variações esses dias. Curiosos os avisos enviados pelo cérebro, não acha?

Se estamos despreparados no trabalho incessante de nos entender, ou o que os estoicos talvez descreveriam como plantar as sementes da filosofia e regá-las diariamente, a conversa pararia por aí. O medo nos venceria e mudaríamos o rumo. Foi o que fiz incontáveis vezes.

Contudo, se já temos pendurados e emoldurados nos corredores da mente alguns valores caros demais para serem ignorados, os diálogos mudam. Ceder ao medo, se acovardar diante dele seria como quebrar um contrato com nós mesmos, o contrato de sermos quem desejamos ser. Gritamos às nossas várias versões internas de que não há sentido em baixar a cabeça e viver com a dor crônica de não dizer o que pensamos, de não fazer o que temos exclamado querermos fazer.

De maneira alguma suponho que ao me conhecer melhor serei exemplo de coragem, longe disso. Sou o primeiro a dizer que nem todas as trilhas valem a pena ser exploradas. Também não direi estar livre de quaisquer vieses, já provados ou por ser estudados, nem mesmo das armadilhas do compromisso e da coerência, diabretes da mente como são chamadas no livro do Robert Cialdini. Na verdade, até conto com elas para moldar minhas ações e solidificar minha autoimagem. Finalmente, estou ciente que no caminho da coragem preciso assumir a postura de deixar afastada a arrogância. A única coisa que não quero é ser vítima das escolhas que não tomei, ou melhor, escolhas que deixei o medo tomar por mim.